São Paulo, Sábado, 05 de Junho de 1999
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Ex-namorada nega acusações contra Viscome na Justiça

MALU GASPAR
da Reportagem Local

Tânia de Paula, ex-namorada do vereador Vicente Viscome (sem partido), voltou atrás ontem de todas as acusações que já fez contra o parlamentar, na polícia e na CPI.
Ela e outros dois envolvidos no processo que apura corrupção na Administração Regional da Penha negaram ontem, em depoimento à Justiça, que tivessem conhecimento de que Viscome era o chefe da rede de propina na regional.
Tânia, que também foi assessora do vereador, Pedro Antonio Saul, ex-regional da Penha, e Vladimir Augusto Pereira, ex-oficial de gabinete da regional, disseram ter delatado o vereador por terem sido ameaçados pelos delegados.
Segundo eles, se não incriminassem Viscome, teriam suas prisões preventivas decretadas. "Só ela (Tânia) sabe o que passou na polícia, e temos como provar isso", disse seu advogado, Gilberto Saad.
Segundo ele, Tânia estava se sentindo constrangida e ameaçada mesmo no depoimento à CPI e em entrevistas. "À CPI, ela foi acompanhada de um delegado. Você acha que ela estava à vontade?"
Ele disse que Tânia resolveu mudar seu depoimento por estar na frente de um juiz. "A um juiz, você tem de dizer a verdade."
Tânia negou também que tivesse recebido a propina entregue pelos funcionários da regional e passado a Viscome, como havia afirmado antes.
Ela, Viscome e outros sete denunciados pelo Ministério Público foram ouvidos ontem pelo juiz Rui Porto Dias, da 8ª Vara Criminal, na primeira audiência do processo contra eles. No total, 16 pessoas foram denunciadas.
Durante seu depoimento, Viscome, que está suspenso do PPB, chorou muito e negou todas as acusações.
O delegado Naief Saad Neto, que preside o inquérito sobre a corrupção na Regional da Penha, negou que tenha coagido as testemunhas a delatar Viscome. "Os depoimentos foram filmados e gravados. Além disso, Tânia depôs na CPI e deu várias entrevistas. Será que ela também foi coagida pela Câmara Municipal e pela mídia?", disse.
Para ele e para o delegado Romeu Tuma Jr., que também colheu depoimentos de Tânia, isso é uma "tendência". "Todos agora devem começar a mudar o depoimento, tentando abalar a credibilidade das investigações", disse Tuma Jr.
Em entrevista à Folha, há duas semanas, Tânia disse que manteria tudo o que relatou à polícia. "Sou uma mulher de uma palavra só. Como é que ele (Viscome) não saberia? Só se eu roubasse um banco por dia", disse. A conversa foi gravada pela reportagem.
O advogado de Vicente Viscome, Ademar Gomes, estava eufórico após o depoimento. "Hoje foi um dia vitorioso", afirmava. Para ele, com a mudança nos depoimentos, não restam mais provas contra seu cliente. "Quero ver agora como a promotoria vai se virar."
Durante toda a tarde, Gomes fez com que os advogados dos envolvidos dessem entrevistas, mas negou que os conhecesse antes dos depoimentos e que o recuo nas acusações tivesse sido preparado em conjunto com eles.
Com exceção do ex-regional Saul, que assumiu participação em irregularidades ligadas à limpeza pública, os demais envolvidos negaram todas as acusações.
Com os depoimentos de ontem, Tânia, Saul e Pereira perderam a chance do benefício da "delação premiada", que havia sido oferecido pela polícia e pelo Ministério Público em troca da confissão. Segundo o promotor Gilberto Garcia Leme, eles poderiam obter a redução de um a dois terços da pena no final do processo por terem colaborado com as investigações.


Colaborou Silvia Correia, da Reportagem Local

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