São Paulo, sexta-feira, 05 de julho de 2002

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PATRIMÔNIO

Grande parte dos cerca de 180 mil volumes da biblioteca da 1ª faculdade de medicina do Brasil, na BA, está irrecuperável

Fungos e chuva ameaçam livros históricos

Edson Ruiz/Folha Imagem
Fachada deteriorada do prédio da faculdade


LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Em um pequeno espaço úmido e sem ventilação, cerca de 180 mil livros dos séculos 17, 18 e 19, que retratam grande parte da história da medicina brasileira, se deterioram, justamente no local que deveria servir de referência para alunos e historiadores -a biblioteca da primeira faculdade de medicina do Brasil, no Terreiro de Jesus (centro histórico de Salvador).
Em meio a vidros quebrados, pedaços de madeiras e móveis antigos, os livros estão amontoados e convivem com infiltrações, fungos e insetos. "A maior parte do acervo está completamente irrecuperável", disse o diretor da faculdade de medicina da UFBa (Universidade Federal da Bahia), Manoel Barral.
Sem uma solução prática para restaurar os volumes, Barral disse que pretende nomear uma comissão de especialistas para fazer o "descarte". "Temos que ser realistas. Muitos livros não têm mais recuperação."
Segundo o diretor, em alguns casos, a completa recuperação de apenas um volume pode custar até R$ 5.000. "Infelizmente, teremos que jogar no lixo os exemplares irrecuperáveis."
Com as chuvas que há uma semana atingem a capital baiana, a precariedade do espaço que abriga os livros ficou ainda mais evidente -em certas áreas, alguns volumes ficaram debaixo da água.

Escada improvisada
"Os milhares de livros estão servindo de escada para os operários que estão executando algumas obras no prédio", disse Maria Theresa Pacheco, professora aposentada da faculdade.
Encontrado em meio aos livros abandonados, um catálogo de 1836 registrava um total de 15 mil títulos, incluindo livros, teses, enciclopédias e dicionários.
Destruída por um incêndio em 1905, a biblioteca foi totalmente restaurada quatro anos mais tarde. "A partir de 1909, incorporamos outros títulos ao acervo, até que a biblioteca atingisse os 180 mil volumes", disse Barral.
Considerado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso como "patrimônio da medicina brasileira", o prédio da primeira escola de nível superior do país também sofre os efeitos do abandono.
Com exceção de um anfiteatro, que já foi restaurado, e de um espaço que abriga um museu afro, os 11,5 mil metros quadrados do prédio estão com suas estruturas parcialmente danificadas.
Até mesmo o memorial, que abriga livros raros, teses, atas e diplomas, está comprometido pelas infiltrações.
"Já gastamos R$ 2,5 milhões nas obras de recuperação. Precisamos de mais R$ 4 milhões para restaurar todo o prédio", disse o arquiteto Luiz Dourado, coordenador das obras de restauração.
Pelo projeto da UFBa, depois da restauração o prédio deveria abrigar algumas disciplinas do curso de medicina.
"No entanto, existem correntes contrárias à medida", disse Barral. Parte dos alunos acha que a área não tem infra-estrutura para voltar a funcionar como uma faculdade regular -o prédio está localizado em uma área turística, que oferece poucas vagas para estacionamento.
O prédio da faculdade de medicina da Bahia está localizado no mesmo local onde foi erguido o Colégio dos Jesuítas, em 1553. Antes de ganhar o nome atual, a construção abrigou a Escola de Cirurgia da Bahia e a Academia Médico-Cirúrgica da Bahia.



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