São Paulo, sexta-feira, 05 de julho de 2002

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BARBARA GANCIA

"Melhor do mundo" é conversa para boi dormir

Não adianta aquela marca de equipamentos esportivos tentar nos convencer de que somos "os melhores do mundo", de que temos competência, talento e ousadia só porque o país que consta da nossa certidão de nascimento coincide com o lugar onde nasceram Ronaldo e companhia. Não chegamos nem mesmo aos pés do menino-deus e não foi preciso que a Copa terminasse para que a ficha caísse.
Lá pelas oitavas-de-final, todos nós, os Ronaldo "wannabes", tomamos conhecimento de que o juiz Nicolau dos Santos Neto foi condenado a oito anos de prisão por lavagem de dinheiro e tráfico de influência e absolvido no processo sobre o desvio de verbas. Faz sentido?
E tem cabimento absolver o senador cassado Luiz Estevão com base em uma tecnicalidade, como a falta de autenticação de extratos que comprovariam uma remessa de dinheiro entre o ex-senador e o juiz?
Longe de mim pretender desqualificar a decisão de um juiz da Vara Criminal Federal, mas será que nossos promotores estão equipados para competir de igual para igual com os habilíssimos advogados que os Estevãos e Lalaus podem pagar?
Ninguém aqui é Ronaldo, Rivaldo ou Cafu. O mundo nos aplaudiu no domingo, mas a admiração durou pouco. Na quarta dei uma fuçada na Internet, nos sites dos jornais mais importantes do planeta, e não havia um que não mencionasse o apedrejamento do ônibus da seleção na etapa carioca da comemoração.
Shakespeare já falava da volubilidade das multidões em seu "Julius Caeser", mas uma mudança de humor tão repentina nem mesmo o genial bardo seria capaz de prever.
Quando a avacalhação tomou conta da comemoração no Planalto, já dava para perceber que a festa ia acabar virando vinagre. Tradições existem para ser preservadas e é muito salutar que seja assim. Daqui a 20 anos, as imagens ainda irão mostrar que, no Dia do Bombeiro, a CBF trocou o carro vermelho da corporação pelo caminhão do patrocinador.
E eu não tenho nada contra manifestações de alegria, mas, se Vampeta pode dar cambalhotas movidas a "mé" na rampa do palácio, por que o Matt Groening não pode retratar o Brasil como país da esculhambação no desenho "Os Simpsons"?
E por que razão sou obrigada a tomar conhecimento de que o presidente da República perguntou ao Rivaldo se o jogador ainda estava "puto" com ele? Poupe-nos, FHC!

QUALQUER NOTA

Redenção
A drogaria Iguatemi, citada nesta coluna por tratar clientes como se fossem golpistas em potencial, entrou em contato para informar que está ciente da existência de reclamações como a minha e para dizer que tomará providências. O estabelecimento vai cadastrar clientes e facilitar a vida de quem ainda paga com cheque.

Ignorância
Se os Estados Unidos priorizam a América Latina e consideram o Brasil como seu "sócio essencial" no continente, por que Bush perguntou a FHC se existem negros em nosso país?

E-mail - barbara@uol.com.br
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