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VIOLÊNCIA
Carbonização prejudica reconhecimento de restos mortais, diz bióloga; policial compara traficante a Bin Laden
Corpo de jornalista pode não ser identificado
SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO
O corpo do jornalista Tim Lopes
poderá não ser identificado caso
seus restos mortais estejam entre
os fragmentos de ossos carbonizados recolhidos pela polícia num
cemitério clandestino na favela da
Grota, no complexo do Alemão
(zona norte do Rio).
A bióloga Concy Rinzler, responsável pela identificação das
ossadas no laboratório Sonda, da
Universidade Federal do Rio de
Janeiro, disse que, quando submetidas a altas temperaturas, as
moléculas de DNA se partem, impossibilitando o reconhecimento.
Ontem, o inspetor Daniel Gomes, da 22ª DP (Delegacia de Polícia), comparou o traficante Elias
Pereira da Silva, o Elias Maluco,
apontado como o assassino do
jornalista, ao terrorista Bin Laden.
"Hoje, vejo o Elias Maluco como o Osama bin Laden. Assim
como o Afeganistão, o complexo
do Alemão tem muitas montanhas e cavernas, onde ele deve estar escondido. Não acredito que
ele tenha deixado o complexo."
Lopes desapareceu no dia 2 de
junho, quando fazia reportagem
sobre um baile funk na favela Vila
Cruzeiro, no complexo do Alemão. Responsável pelas investigações sobre a morte do jornalista e
pela busca a Elias Maluco, Gomes
disse que já foram verificadas cerca de 500 denúncias sobre o paradeiro do traficante. Outras 500 devem ser investigadas.
O inspetor admitiu que a polícia
investiga hipótese de Elias Maluco
ainda não ter sido preso por estar
sendo protegido por policiais.
"Não podemos desprezar nenhuma possibilidade."
Laudo
Concy Rinzler explicou que os
biólogos têm se concentrado em
fragmentos não carbonizados e
em pedaços de ossos menos afetados pelo fogo. Ela admitiu que o
trabalho pode não ter os resultados esperados. "O DNA se parte
sob forte calor e, com isso, a identificação fica impossível."
Além do problema do fogo, a
sujeira e a proximidade com fragmentos de outros corpos podem
prejudicar a identificação. "A
contaminação por bactérias contidas no solo e por amostras de
outras ossadas prejudicam a ampliação do DNA."
O laudo, em fase de finalização,
será entregue hoje à polícia. Por se
tratar de um trabalho sigiloso, a
bióloga se disse impedida de antecipar o resultado.
De acordo com o inspetor Gomes, caso o resultado seja negativo, as buscas pelo corpo do jornalista serão reiniciadas.
Ele informou que 12 policiais da
22ª DP trabalham exclusivamente
no caso, todos os dias. Sua principal tarefa tem sido verificar as denúncias sobre Elias Maluco. Todos os dias chegam, em média, 20
novas informações, repassadas
pelo programa Disque-Denúncia.
Segundo a entidade, desde o dia
4 de junho, quando começaram
as buscas por Lopes, já foram
contabilizados 1.079 telefones sobre a localização do traficante.
O coordenador do Disque-Denúncia, José Carlos Borges, disse
que as informações são repassadas para a 22ª DP (Delegacia de
Polícia), para a DRE (Delegacia de
Repressão a Entorpecentes) e para a Delegacia de Homicídios.
"Nós temos acompanhado o serviço da polícia e a apuração das
denúncias e sabemos que eles estão fazendo um bom trabalho",
disse o coordenador.
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