São Paulo, sexta-feira, 05 de julho de 2002

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VIOLÊNCIA

Carbonização prejudica reconhecimento de restos mortais, diz bióloga; policial compara traficante a Bin Laden

Corpo de jornalista pode não ser identificado

SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO

O corpo do jornalista Tim Lopes poderá não ser identificado caso seus restos mortais estejam entre os fragmentos de ossos carbonizados recolhidos pela polícia num cemitério clandestino na favela da Grota, no complexo do Alemão (zona norte do Rio).
A bióloga Concy Rinzler, responsável pela identificação das ossadas no laboratório Sonda, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, disse que, quando submetidas a altas temperaturas, as moléculas de DNA se partem, impossibilitando o reconhecimento.
Ontem, o inspetor Daniel Gomes, da 22ª DP (Delegacia de Polícia), comparou o traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, apontado como o assassino do jornalista, ao terrorista Bin Laden.
"Hoje, vejo o Elias Maluco como o Osama bin Laden. Assim como o Afeganistão, o complexo do Alemão tem muitas montanhas e cavernas, onde ele deve estar escondido. Não acredito que ele tenha deixado o complexo."
Lopes desapareceu no dia 2 de junho, quando fazia reportagem sobre um baile funk na favela Vila Cruzeiro, no complexo do Alemão. Responsável pelas investigações sobre a morte do jornalista e pela busca a Elias Maluco, Gomes disse que já foram verificadas cerca de 500 denúncias sobre o paradeiro do traficante. Outras 500 devem ser investigadas.
O inspetor admitiu que a polícia investiga hipótese de Elias Maluco ainda não ter sido preso por estar sendo protegido por policiais. "Não podemos desprezar nenhuma possibilidade."

Laudo
Concy Rinzler explicou que os biólogos têm se concentrado em fragmentos não carbonizados e em pedaços de ossos menos afetados pelo fogo. Ela admitiu que o trabalho pode não ter os resultados esperados. "O DNA se parte sob forte calor e, com isso, a identificação fica impossível."
Além do problema do fogo, a sujeira e a proximidade com fragmentos de outros corpos podem prejudicar a identificação. "A contaminação por bactérias contidas no solo e por amostras de outras ossadas prejudicam a ampliação do DNA."
O laudo, em fase de finalização, será entregue hoje à polícia. Por se tratar de um trabalho sigiloso, a bióloga se disse impedida de antecipar o resultado.
De acordo com o inspetor Gomes, caso o resultado seja negativo, as buscas pelo corpo do jornalista serão reiniciadas.
Ele informou que 12 policiais da 22ª DP trabalham exclusivamente no caso, todos os dias. Sua principal tarefa tem sido verificar as denúncias sobre Elias Maluco. Todos os dias chegam, em média, 20 novas informações, repassadas pelo programa Disque-Denúncia.
Segundo a entidade, desde o dia 4 de junho, quando começaram as buscas por Lopes, já foram contabilizados 1.079 telefones sobre a localização do traficante.
O coordenador do Disque-Denúncia, José Carlos Borges, disse que as informações são repassadas para a 22ª DP (Delegacia de Polícia), para a DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes) e para a Delegacia de Homicídios. "Nós temos acompanhado o serviço da polícia e a apuração das denúncias e sabemos que eles estão fazendo um bom trabalho", disse o coordenador.



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