|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GUERRA URBANA
Vindos do complexo do Alemão, membros do CV invadem morro do Adeus e expulsam dezenas de moradores
Tráfico mata 4 e esvazia casas em morro
ALESSANDRO FERREIRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Um dia após a morte do traficante Leandro de Jesus Aparecida
Sabino, o DJ, em confronto com a
PM (Polícia Militar), o morro do
Adeus (Ramos, zona norte do
Rio) viveu ontem outra madrugada de terror. Traficantes do complexo de favelas do vizinho morro
do Alemão invadiram o local, mataram duas mulheres e dois homens e provocaram a fuga de dezenas de moradores.
Os invasores são da facção criminosa CV (Comando Vermelho). Com a morte de DJ, que fragilizou a quadrilha local, eles tentaram tomar o controle do morro,
até então dominado pela ADA
(Amigo dos Amigos). Os mortos
seriam traficantes do Adeus.
Os moradores começaram a
deixar o morro na noite de anteontem, pois já havia rumores de
que o morro seria invadido. A invasão ocorreu no início da madrugada, mas só a partir das 8h a
PM enviou 40 homens à favela.
Outros 24 policiais, em oito carros, reforçaram o patrulhamento
dos acessos ao morro. No início
da tarde, PMs que passavam por
um dos acessos à favela prenderam cinco suspeitos.
Segundo o delegado Flávio Loureiro, da 21ª DP, em Bonsucesso
(zona norte), os presos não moram na favela e não explicaram o
que faziam no local, reforçando a
suspeita de que teriam participado da tentativa de invasão.
Segundo o tenente-coronel Álvaro Garcia, comandante do batalhão responsável pelo policiamento da região, não há possibilidade de a favela ser dominada pela facção criminosa invasora.
"O morro do Adeus não será tomado por facção alguma", afirmou o oficial, que não soube dizer
quantos traficantes teriam participado da tentativa de invasão.
A praça das Nações, em Bonsucesso, virou refúgio para as cerca
de 70 pessoas que deixaram a favela às pressas. Sem saber o que
fazer, elas sofriam com a falta de
informações sobre os parentes
que ainda estavam no morro.
Às 12h30, cerca de 20 homens
em dez motos e em uma Kombi
contornaram a praça fazendo sinais e gritando palavras de apoio
ao CV ("É vermelho!"), assustando ainda mais os moradores.
O tenente-coronel Garcia disse
que, dos quatro mortos, três (dois
homens e uma mulher) foram socorridos pelos próprios moradores da favela na madrugada.
O corpo da quarta vítima, uma
mulher, foi achado pela polícia de
manhã, em uma lixeira na favela.
O morro do Adeus era o principal reduto do traficante Ernaldo
Pinto de Medeiros, o Uê, fundador da ADA. Uê era odiado pelo
CV, que o acusava de traidor. Foi
expulso da facção em 1994, após
matar o traficante Orlando da
Conceição, o Orlando Jogador.
Após sair do CV, Uê herdou todas as favelas que eram dominadas pelo traficante José Carlos Encina, o Escadinha, com quem
conviveu no presídio Bangu 1.
Considerado um dos primeiros
traficantes do Rio a se tornar atacadista de drogas, Uê era rival de
Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, na distribuição de drogas no Rio.
Em 2002, Uê e três cúmplices foram mortos durante motim em
Bangu 1, liderado por presos do
CV, entre eles Beira-Mar e Márcio
Nepomuceno, o Marcinho VP.
Colaborou MARIO HUGO MONKEN, da
Sucursal do Rio
Texto Anterior: Inverno na serra: Campos do Jordão recebe unidade temporária de combate a seqüestros Próximo Texto: Para PM, não foi invasão e morro não está com CV Índice
|