São Paulo, segunda-feira, 05 de julho de 2004

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GUERRA URBANA

Vindos do complexo do Alemão, membros do CV invadem morro do Adeus e expulsam dezenas de moradores

Tráfico mata 4 e esvazia casas em morro

ALESSANDRO FERREIRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Um dia após a morte do traficante Leandro de Jesus Aparecida Sabino, o DJ, em confronto com a PM (Polícia Militar), o morro do Adeus (Ramos, zona norte do Rio) viveu ontem outra madrugada de terror. Traficantes do complexo de favelas do vizinho morro do Alemão invadiram o local, mataram duas mulheres e dois homens e provocaram a fuga de dezenas de moradores.
Os invasores são da facção criminosa CV (Comando Vermelho). Com a morte de DJ, que fragilizou a quadrilha local, eles tentaram tomar o controle do morro, até então dominado pela ADA (Amigo dos Amigos). Os mortos seriam traficantes do Adeus.
Os moradores começaram a deixar o morro na noite de anteontem, pois já havia rumores de que o morro seria invadido. A invasão ocorreu no início da madrugada, mas só a partir das 8h a PM enviou 40 homens à favela.
Outros 24 policiais, em oito carros, reforçaram o patrulhamento dos acessos ao morro. No início da tarde, PMs que passavam por um dos acessos à favela prenderam cinco suspeitos.
Segundo o delegado Flávio Loureiro, da 21ª DP, em Bonsucesso (zona norte), os presos não moram na favela e não explicaram o que faziam no local, reforçando a suspeita de que teriam participado da tentativa de invasão.
Segundo o tenente-coronel Álvaro Garcia, comandante do batalhão responsável pelo policiamento da região, não há possibilidade de a favela ser dominada pela facção criminosa invasora.
"O morro do Adeus não será tomado por facção alguma", afirmou o oficial, que não soube dizer quantos traficantes teriam participado da tentativa de invasão.
A praça das Nações, em Bonsucesso, virou refúgio para as cerca de 70 pessoas que deixaram a favela às pressas. Sem saber o que fazer, elas sofriam com a falta de informações sobre os parentes que ainda estavam no morro.
Às 12h30, cerca de 20 homens em dez motos e em uma Kombi contornaram a praça fazendo sinais e gritando palavras de apoio ao CV ("É vermelho!"), assustando ainda mais os moradores.
O tenente-coronel Garcia disse que, dos quatro mortos, três (dois homens e uma mulher) foram socorridos pelos próprios moradores da favela na madrugada.
O corpo da quarta vítima, uma mulher, foi achado pela polícia de manhã, em uma lixeira na favela.
O morro do Adeus era o principal reduto do traficante Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê, fundador da ADA. Uê era odiado pelo CV, que o acusava de traidor. Foi expulso da facção em 1994, após matar o traficante Orlando da Conceição, o Orlando Jogador.
Após sair do CV, Uê herdou todas as favelas que eram dominadas pelo traficante José Carlos Encina, o Escadinha, com quem conviveu no presídio Bangu 1.
Considerado um dos primeiros traficantes do Rio a se tornar atacadista de drogas, Uê era rival de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, na distribuição de drogas no Rio.
Em 2002, Uê e três cúmplices foram mortos durante motim em Bangu 1, liderado por presos do CV, entre eles Beira-Mar e Márcio Nepomuceno, o Marcinho VP.


Colaborou MARIO HUGO MONKEN, da Sucursal do Rio


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