São Paulo, sábado, 05 de julho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sargento diz que tráfico dá R$ 10 mil por sua "cabeça"

Em depoimento, ele disse que outros militares acusados de entregar jovens da Providência ao tráfico também estão sob ameaça

A procuradora da República Patrícia Nuñez afirmou que tomará todas as medidas para evitar riscos aos acusados e às suas famílias


RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

O sargento do Exército Renato Alves afirmou em depoimento à Justiça Federal que ele e outros militares envolvidos na morte dos três rapazes do morro da Providência estão ameaçados de morte por traficantes do Comando Vermelho. De acordo com Alves, o tráfico está oferecendo R$ 10 mil pela "cabeça" de cada um.
"Um sargento do batalhão me falou ainda há pouco que um militar morador da Providência disse que queriam saber onde moram os três sargentos e o oficial e que as vidas dos familiares deles estão em risco. A nossa cabeça vale R$ 10 mil para o Comando Vermelho. O tenente da Polícia do Exército que me escoltou ouviu", disse o sargento, no interrogatório.
A afirmação foi feita após o juiz Marcelo Granado, da 7ª Vara Criminal Federal, ter questionado as versões contraditórias dele e de outros depoentes. Ele explicou que estava nervoso por causa da conversa que tivera minutos antes.
"Estou preso há 18 dias. Minha família está lá fora. Um rapaz procurou saber sobre os militares envolvidos. Me mandaram apagar fotos do Orkut. Nossa cabeça está valendo R$ 10 mil", disse.
Ao fim do depoimento, afirmou que o tenente Vinícius Ghidetti de Moraes Andrade, acusado de ter entregue os jovens aos traficantes de um morro rival, também relatou, no quartel onde estão presos, que "seis rapazes estiveram atrás da família dele no local onde morava".
A procuradora da República Patrícia Nuñez afirmou que tomará as medidas necessárias para evitar ameaças às famílias e aos acusados. "O que estiver ao nosso alcance para prevenir esse tipo de ato, será feito."
O sargento Alves afirmou que chegou até a pensar em dar voz de prisão ao tenente Ghidetti ao ver os traficantes armados agredindo um dos rapazes. De acordo com ele, no momento imaginou que a conseqüência poderia ser um tiroteio, expondo a tropa.
Para o Ministério Público Federal, existe "uma hierarquia de culpa". "Percebemos que tem um ordenante, tem aquele que negociou com os traficantes, os que serviram de escolta para os rapazes serem entregues aos traficantes e tem aqueles que ficaram na guarda. Não queremos a impunidade, mas uma punição adequada ao que cada um fez", afirmou Patrícia Nuñez.

Chuva cancela operação
A primeira tentativa da polícia do Rio para prender os traficantes do morro da Mineira apontados como assassinos dos três jovens da Providência teve que ser cancelada por causa da forte chuva que atingiu a cidade. Os helicópteros que fariam apoio aéreo à operação não puderam decolar, informou o delegado titular da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis, Ronaldo de Oliveira, que comandaria a ação.


Colaborou a Folha Online no Rio


Texto Anterior: Margem de erro de bafômetros pode levar a contestações
Próximo Texto: Tenente riu ao entregar jovens, dizem soldados
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.