São Paulo, sábado, 5 de julho de 1997.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ponto turístico do Rio, que era amarelo, muda de cor e causa revolta; pintura é embargada
Fiéis rejeitam igreja da Penha branca

RONI LIMA
da Sucursal do Rio

Um dos pontos turísticos mais conhecidos do Rio, frequentado por romeiros de vários países, a igreja da Penha virou palco de uma briga entre católicos desde que começou a ser pintada de branco para a visita do papa João Paulo 2º.
Com sua tradicional cor amarela, no topo de um penhasco na Penha (zona norte), a igreja é um bem tombado e se tornou famosa pela romaria de fiéis que sobem de joelhos seus 365 degraus.
Há dois meses, a Venerável Irmandade de N.S. da Penha de França, que administra a igreja, decidiu repintá-la de branco, com detalhes azuis, com a intenção de realçar o imóvel.
O problema é que a irmandade não consultou o Departamento Geral do Patrimônio Cultural do município -que precisa autorizar reformas em bens tombados- e bateu de frente com moradores mais tradicionalistas.
Inconformadas com o início da pintura, as direções da Amcrip (Associação de Moradores do Conjunto Residencial do Iapi da Penha) e do clube Centro Cívico Leopoldinense se mobilizaram contra a alteração da cor.
"Acho um absurdo. Isso é uma tradição", disse a diretora do Departamento Feminino do Clube, Maria Helena Conceição, 55. A história da igreja começa em 1635, quando um fazendeiro da região construiu uma capela no alto do penhasco, para pagar uma promessa. A capela foi sendo reformada e, em 1870, deu lugar à igreja da Penha.
Para o padre Serafim Sousa Fernandes e o secretário-executivo da irmandade, Itamar Bastos, 70, a cor branca daria mais destaque à igreja, principalmente à noite, quando é iluminada.
Por outro lado, a nova pintura serviria para renovar a fachada. "Se o papa chegar aqui e encontrar a igreja caindo aos pedaços não vai ser uma tristeza?", questiona Bastos. Fiéis têm esperança de que o papa visite a igreja.
Apesar de gostar mais da cor branca, o subprefeito da zona da Leopoldina, Ícaro Moreno Júnior, 42, comunicou a denúncia da Amcrip ao departamento do patrimônio, que embargou a nova pintura.
A direção do departamento informou apenas que está analisando a questão. A Arquidiocese do Rio não quis se pronunciar sobre a polêmica, pois o cardeal-arcebispo Eugenio Sales está viajando. Bastos disse que "a única coisa que faltou" foi consultar o patrimônio. Pinto afirmou que a Amcrip vai entrar na Justiça se for autorizada a mudança da cor da igreja.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.