São Paulo, domingo, 05 de agosto de 2001

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APAGÃO

Fotos do Inpe mostram que a região metropolitana escureceu 44% se comparada com o mesmo período do ano passado

Satélite revela avanço da escuridão em SP

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Agora é científico. O breu que você vê nas ruas das cidades ao redor de São Paulo foi comprovado, fotografado e medido por um satélite. Vista do espaço, a 830 quilômetros da Terra, a maior concentração urbana do Brasil escureceu 44% quando se compara um dia de junho de 2000 com um dia do mesmo mês deste ano.
A região analisada é uma espécie de Grande São Paulo expandida: engloba uma área que se estende por até 200 quilômetros a partir do centro de São Paulo e inclui cidades do porte de Campinas, Santos e São José dos Campos. A população que ali vive ultrapassa a casa dos 20 milhões.
A comparação das imagens captadas por satélite foi feita pela pesquisadora do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) Silvana Amaral Kampel, 34, a pedido da reportagem da Folha.
No dia 3 de junho do ano passado, a área com luz dessa região atingia 8.015 km2 (veja mapa no quadro). Após o racionamento de energia, oficializado no dia 1º de junho deste ano, a região iluminada encolheu. Ela media 4.467 km2 no dia 20 de junho de 2001. Ficaram menos iluminados 3.548 km2, o correspondente a 44% da área saturada de luz em 2000.
Para quem gosta de comparações, a região que ficou no breu depois do racionamento é equivalente à área de 11 cidades do tamanho de Salvador, a capital baiana.
Não dá para dizer que os 3.548 km2 foram apagados, segundo Silvana. O satélite que captou as imagens -o Defense Meteorological Satellite Program, do Departamento de Defesa dos Estados Unidos- só registra luzes quando elas formam uma área luminosa a partir de 1 km2.
Como a queda ocorreu principalmente em áreas menos iluminadas, o satélite registra apagão onde houve redução. O raciocínio inverso também é certo: em áreas saturadas de luz, como o centro de São Paulo, a redução é praticamente imperceptível do alto.
O flagrante do satélite mostra que a redução de luz não foi homogênea. "As cidades mais afetadas ficam na periferia da Grande São Paulo, na região de Campinas e no Vale do Paraíba", diz Silvana.
A maior redução em área ocorreu em Campinas. A imagem de 2001 mostra uma área iluminada 1997 km2 menor do que a de 2000.
No ranking das cidades que tiveram as maiores reduções proporcionais, dois dos quatro primeiros postos são ocupados por cidades do Vale do Paraíba: Caçapava (primeiro lugar) e Taubaté (quarto). Nas duas, a redução foi superior a 90%. A situação é similar à de Santana do Parnaíba, na Grande São Paulo, e Louveira (na região de Campinas).
É claro que, na prática, nenhum desses municípios apagou quase que totalmente. O gerente-executivo da área comercial da Bandeirante no Vale do Paraíba, Rene Mina Vernice, 45, arrisca uma explicação: os cortes na área rural.
A política adotada pela Bandeirante foi desligar totalmente a luz das estradas vicinais e de loteamentos não ocupados; nas vias sem trânsito de pedestres, foram apagadas de 75% a 100% das luzes; nas áreas periféricas com baixa densidade populacional, metade da iluminação foi desligada. Já nas regiões centrais, o corte ficou em 35% por razões de segurança.
"A redução foi grande porque áreas enormes da zona rural, que eram iluminadas em 2000, foram desligadas em 2001", afirma Vernice. A queda de luz nas bordas diminui a luminosidade do centro, provocando a falsa impressão de que a cidade toda foi apagada.
Já a cidade de São Paulo foi menos afetada. Apesar de o apagão ter atingido 166 km2 (seria como se Santo André, São Caetano do Sul e Diadema tivessem todas as suas luzes apagadas), a redução é pequena proporcionalmente: houve uma queda de 13,8%, concentrada sobretudo nos extremos das zonas sul e leste. Na região central de São Paulo, a diminuição é imperceptível pelo satélite, segundo Silvana, porque há uma concentração grande de luzes.
A redução detectada pelo satélite coincide com o número de postes desligados em junho em São Paulo. Segundo Carlos Longue, 39, engenheiro da central de operações da Eletropaulo, havia 70 mil postes desligados naquele mês, o correspondente a 13,5% dos 520 mil existentes na cidade. A meta é desligar 180 mil postes.


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