São Paulo, domingo, 05 de agosto de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para moradores, violência aumentou

DA REPORTAGEM LOCAL

"Isto aqui ficou um breu", disse na quinta-feira à noite o vigilante Expedito Rodrigues, 50, que estava em um ponto de ônibus na avenida Dona Belmira Marin, no Grajaú, zona sul da cidade.
Além de fazer parte do ranking das mais violentas, Grajaú é uma das regiões da periferia mais carentes de benefícios públicos.
Ali, falta tudo, inclusive manutenção na iluminação pública. Alguns moradores ouvidos pela reportagem não souberam dizer se a luz apagada nos postes tinha sido desligada pela Eletropaulo ou se estava queimada.
Rodrigues estava em um lugar onde não havia poste de iluminação, mas em vários outros pontos de ônibus a luz foi cortada pelo programa de economia de energia. Poucas pessoas se arriscam a ficar nesses locais.
As noites do Grajaú também estão mais escuras porque, para fazer economia, moradores e comerciantes deixaram de usar o maior número possível de lâmpadas, incluindo aquelas que ajudavam a iluminar as calçadas. "Em casa, o apagão já chegou", afirmou Rodrigues.
A dona-de-casa Luzia dos Santos Moraes, 57, diz lamentar que a oficina próxima a sua casa tenha acabado com uma lâmpada que ficava acesa a noite toda.
"Era a luz que me dava segurança quando eu chegava em casa", disse Luzia.
A estudante Noélia Pereira dos Santos, 19, afirmou que não entende por que ruas perigosas ficaram no escuro e outras, que são calmas, não tiveram corte de luz.
"Eu tenho uma prima que deixou de ir à escola para não ter de enfrentar o escuro", disse.
Segundo ela, de vez em quando um estuprador aparece na região. "Com o escuro, vai ficar mais fácil para ele [o estuprador" atacar."
De acordo com o Ilume (Departamento de Iluminação Pública de São Paulo), em alguns locais do Grajaú foram desligadas mais lâmpadas do que o previsto por causa de problemas técnicos.
Nos próximos dias, segundo o departamento, a Eletropaulo vai providenciar religação de parte das lâmpadas.

Muro
Em Capela de Socorro, também na zona sul, depois que algumas ruas ficaram com menos iluminação, empresários decidiram aumentar a altura do muro de suas instalações e se equiparam com câmeras de TV.
O comerciante Carlos Klein, 52, afirma que, por causa do escuro, foi assaltado a mão armada por duas pessoas. Eles ficaram com seu talão de cheque, R$ 350 e documentos. "Estou aqui há 50 anos e nunca tinha sido assaltado."
O estabelecimento de Klein fica perto da avenida Roberto Kennedy, em um trecho onde, durante 15 dias, uma fileira de postes ficou sem iluminação.
Alisson Teixeira Evangelista, 21, dono de uma lanchonete no bairro, diz que teve de contratar um segurança particular.
"Agora, atendo os clientes até as 21h, e não mais até as 23h", disse. "Estou perdendo dinheiro." (PAULO ROBERTO LOPES)


Texto Anterior: Medo cresce com falta de luz em Campinas
Próximo Texto: Há 50 anos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.