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Para moradores, violência aumentou
DA REPORTAGEM LOCAL
"Isto aqui ficou um breu", disse
na quinta-feira à noite o vigilante
Expedito Rodrigues, 50, que estava em um ponto de ônibus na
avenida Dona Belmira Marin, no
Grajaú, zona sul da cidade.
Além de fazer parte do ranking
das mais violentas, Grajaú é uma
das regiões da periferia mais carentes de benefícios públicos.
Ali, falta tudo, inclusive manutenção na iluminação pública. Alguns moradores ouvidos pela reportagem não souberam dizer se
a luz apagada nos postes tinha sido desligada pela Eletropaulo ou
se estava queimada.
Rodrigues estava em um lugar
onde não havia poste de iluminação, mas em vários outros pontos
de ônibus a luz foi cortada pelo
programa de economia de energia. Poucas pessoas se arriscam a
ficar nesses locais.
As noites do Grajaú também estão mais escuras porque, para fazer economia, moradores e comerciantes deixaram de usar o
maior número possível de lâmpadas, incluindo aquelas que ajudavam a iluminar as calçadas. "Em
casa, o apagão já chegou", afirmou Rodrigues.
A dona-de-casa Luzia dos Santos Moraes, 57, diz lamentar que a
oficina próxima a sua casa tenha
acabado com uma lâmpada que
ficava acesa a noite toda.
"Era a luz que me dava segurança quando eu chegava em casa",
disse Luzia.
A estudante Noélia Pereira dos
Santos, 19, afirmou que não entende por que ruas perigosas ficaram no escuro e outras, que são
calmas, não tiveram corte de luz.
"Eu tenho uma prima que deixou de ir à escola para não ter de
enfrentar o escuro", disse.
Segundo ela, de vez em quando
um estuprador aparece na região.
"Com o escuro, vai ficar mais fácil
para ele [o estuprador" atacar."
De acordo com o Ilume (Departamento de Iluminação Pública
de São Paulo), em alguns locais do
Grajaú foram desligadas mais
lâmpadas do que o previsto por
causa de problemas técnicos.
Nos próximos dias, segundo o
departamento, a Eletropaulo vai
providenciar religação de parte
das lâmpadas.
Muro
Em Capela de Socorro, também
na zona sul, depois que algumas
ruas ficaram com menos iluminação, empresários decidiram aumentar a altura do muro de suas
instalações e se equiparam com
câmeras de TV.
O comerciante Carlos Klein, 52,
afirma que, por causa do escuro,
foi assaltado a mão armada por
duas pessoas. Eles ficaram com
seu talão de cheque, R$ 350 e documentos. "Estou aqui há 50 anos
e nunca tinha sido assaltado."
O estabelecimento de Klein fica
perto da avenida Roberto Kennedy, em um trecho onde, durante 15 dias, uma fileira de postes ficou sem iluminação.
Alisson Teixeira Evangelista, 21,
dono de uma lanchonete no bairro, diz que teve de contratar um
segurança particular.
"Agora, atendo os clientes até as
21h, e não mais até as 23h", disse.
"Estou perdendo dinheiro."
(PAULO ROBERTO LOPES)
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