São Paulo, domingo, 05 de agosto de 2001

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APAGÃO

Cidade é a que mais reduziu a iluminação segundo comparação de imagens de satélite; moradores evitam sair à noite

Medo cresce com falta de luz em Campinas

Marcos Peron/Folha Imagem
A funcionária pública Leda Pereira, que diz ter mudado seus horários devido ao medo de sair à noite, no portão de sua casa em Campinas


RAQUEL LIMA
DA FOLHA CAMPINAS

A redução na iluminação pública de Campinas (a 95 km de São Paulo) aumentou o medo e mudou hábitos da população.
Na comparação das imagens captadas por satélite feita pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), a cidade aparece como a que mais reduziu a iluminação. A imagem de junho de 2001 mostra uma área iluminada 1997 km2 menor do que a do mesmo mês em 2000.
"Desde o racionamento, eu escuto com frequência as pessoas contarem que foram assaltadas durante a noite", afirma o publicitário Remy Mellero, 28.
Recentemente, ele foi abordado por homens armados com fuzis em um semáforo no centro. "Sinto que a cidade está mais escura de uma forma geral", diz Mellero, que trocará o apartamento no Cambuí -bairro de classe média alta- por uma casa em um condomínio fechado em Valinhos, cidade vizinha de Campinas.
O engenheiro químico Édson José Ferreira, 27, morador do Taquaral, na região central, afirma que a escuridão de Campinas o deixou com receio de sair à noite.
"A cidade está muito escura. Quando saio, procuro escolher os caminhos mais iluminados, com mais pessoas, e evito estar sozinho no carro", afirmou.
Muitos passageiros preferem que eu faça um caminho mais longo a passar por lugares com pouca iluminação", declarou o taxista Jonas Stefani Carusi, 53.
O ator e escritor Ricardo Porto, 37, que costumava sair com frequência à noite para escrever, afirma que diminuiu o hábito com o início do racionamento.
A funcionária pública de Campinas Leda Pereira, 57, também passou a ter mais medo de sair à noite. "Mudei meus horários. Está uma escuridão horrível", diz ela.
A CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz), em acordo com a Prefeitura de Campinas, optou por apagar o centro da cidade para manter a periferia iluminada.
A concessionária informou que desligou 11,5 mil lâmpadas das principais avenidas e praças, e substituiu 6.500 lâmpadas de vapor de mercúrio de 400 watts pelas de vapor de sódio de 150 watts e de 250 watts. A intenção da prefeitura e da CPFL é evitar o aumento da criminalidade durante o período do racionamento.
"Se Campinas está mais apagada não é por causa do racionamento na iluminação pública", diz o presidente da CPFL, Wilson Ferreira Júnior. Segundo ele, a redução no consumo de energia do setor residencial na área de abrangência da empresa chega a 41%.

Reforço
A Polícia Militar de Campinas montou a "operação apagão".
Para isso, 20% do efetivo administrativo foi deslocado para as ruas, de acordo com o comandante do 35º Batalhão da Polícia Militar, Osmar Sabatini.
"Estamos concentrando o policiamento nos períodos da tarde e da noite", afirmou.
Dados da Polícia Civil de Campinas apontam 37 homicídios em junho deste ano, contra 40 no mesmo período do ano passado.
Os roubos de veículos no município caíram de 997 para 619, comparando-se os meses de junho de 2000 e 2001.
O número de furtos de veículos cresceu 11% em junho deste ano em relação ao mesmo mês do ano passado -514 contra 462.
"A população fica mais temerosa no período de racionamento, mas a criminalidade continua em um índice considerado aceitável", disse o comandante.



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