São Paulo, domingo, 05 de agosto de 2001

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ACIDENTE EM MARESIAS

Corpo de Bombeiros não tem grupamento aéreo; Defesa Civil trabalha sem lanchas e botes

Falta estrutura para resgate no litoral norte

KEILA RIBEIRO
DA FOLHA VALE

MARIA TERESA MORAES
FREE-LANCE PARA A FOLHA VALE

O apelo à ajuda de voluntários nas buscas das vítimas do acidente com o helicóptero do Pão de Açúcar, que deixou dois mortos, revelou a falta de estrutura da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros do litoral norte de São Paulo para casos de acidentes no mar.
Durante a operação de resgate da modelo Fernanda Vogel, 20, e do piloto Ronaldo Jorge Ribeiro, 47, mortos no acidente, empresas e moradores foram chamados para ajudar nas buscas.
A equipe de resgate contou com um helicóptero do Pão de Açúcar, um navio da empresa Servmar, uma lancha de um dono de hotel e uma sonda emprestada.
Um grupo de quatro mergulhadores voluntários, levados pela lancha do empresário Adrian Furhausser, localizou anteontem a carcaça da aeronave.
Furhausser disse que recebeu um telefonema na noite do acidente de um tenente dos bombeiros pedindo ajuda. Segundo ele, essa não foi a primeira vez que os bombeiros pediram auxílio em salvamentos marítimos.
"Quando você vê as pessoas desesperadas pedindo ajuda, não há como negar. Você pensa que podia ser alguém da sua família."
Segundo o empresário, o risco cresce devido ao fato de os bombeiros não terem lanchas rápidas para o socorro a náufragos. A lancha da corporação usada na retirada dos corpos de Fernanda e Ribeiro veio de Santos.
O capitão do Iate Clube da Barra do Una, Antônio Rubem D'Agostini, disse que a ajuda nos resgates é como um código informal de quem convive com o mar.
Segundo ele, no Iate Clube, onde há 177 lanchas, os donos das embarcações deixam uma autorização por escrito para que, em caso de acidente, os barcos possam ser usados no salvamento.
"Nenhum sócio nega socorro. Eu já ajudei muita gente e fui ajudado também", disse.

Falta de dinheiro
Desde 91, o governo do Estado discute a implantação de um grupamento aéreo no litoral norte. Mas, segundo o tenente-coronel Otacílio Soares de Lima, comandante do grupamento aéreo da PM no Estado, o projeto não saiu por falta de dinheiro. Quando ocorre um acidente como o do último dia 27, é preciso que a PM acione aeronaves em São Paulo.
Apesar da falta de uma equipe aérea, o Corpo de Bombeiros enfrenta uma situação mais confortável do que a da Defesa Civil.
Segundo a presidente do Comdec (Comitê Municipal de Defesa Civil) de Ubatuba, Elizabeth Ferrari Motta, o órgão existe no município há 24 anos e só agora está sendo estruturado.
Apesar de ter 78 praias e ser uma dos locais mais frequentados por turistas na região -as praias chegam a receber 1 milhão de turistas nos finais de semana da temporada-, o órgão tem apenas quatro agentes.
"Durante muitos anos, o Comdec não recebeu a atenção que deveria da administração municipal", disse Elizabeth, que dirige um órgão sem carro próprio e sem bote de salvamento. Além disso, não há coletes salva-vidas e cordas, equipamentos básicos.
Para contornar a falta de estrutura, a Defesa Civil conta com o apoio da Guarda Civil Municipal, que auxilia nos plantões noturnos, e de funcionários e veículos de outras secretarias, nas situações de emergências.
Em Caraguatatuba, apenas dois homens trabalham como agentes da Defesa Civil. Segundo a diretora do órgão, Cláudia Ruiz, a equipe tem apenas um carro próprio -quando é preciso, são acionados os veículos das secretarias e outros órgãos da prefeitura.
Na cidade, a Defesa Civil também sente a falta de botes, coletes salva-vidas, rádios HTs e materiais de primeiros-socorros.
Em São Sebastião, a Defesa Civil tem dez agentes, dois botes infláveis e três rádios HTs, mas não conta com uma lancha para salvamentos no mar.
O problema é ainda mais grave em Ilhabela, que não tem nem mesmo botes.


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