|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ACIDENTE EM MARESIAS
Corpo de Bombeiros não tem grupamento aéreo; Defesa Civil trabalha sem lanchas e botes
Falta estrutura para resgate no litoral norte
KEILA RIBEIRO
DA FOLHA VALE
MARIA TERESA MORAES
FREE-LANCE PARA A FOLHA VALE
O apelo à ajuda de voluntários
nas buscas das vítimas do acidente com o helicóptero do Pão de
Açúcar, que deixou dois mortos,
revelou a falta de estrutura da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros do litoral norte de São Paulo
para casos de acidentes no mar.
Durante a operação de resgate
da modelo Fernanda Vogel, 20, e
do piloto Ronaldo Jorge Ribeiro,
47, mortos no acidente, empresas
e moradores foram chamados para ajudar nas buscas.
A equipe de resgate contou com
um helicóptero do Pão de Açúcar,
um navio da empresa Servmar,
uma lancha de um dono de hotel e
uma sonda emprestada.
Um grupo de quatro mergulhadores voluntários, levados pela
lancha do empresário Adrian
Furhausser, localizou anteontem
a carcaça da aeronave.
Furhausser disse que recebeu
um telefonema na noite do acidente de um tenente dos bombeiros pedindo ajuda. Segundo ele,
essa não foi a primeira vez que os
bombeiros pediram auxílio em
salvamentos marítimos.
"Quando você vê as pessoas desesperadas pedindo ajuda, não há
como negar. Você pensa que podia ser alguém da sua família."
Segundo o empresário, o risco
cresce devido ao fato de os bombeiros não terem lanchas rápidas
para o socorro a náufragos. A lancha da corporação usada na retirada dos corpos de Fernanda e Ribeiro veio de Santos.
O capitão do Iate Clube da Barra
do Una, Antônio Rubem D'Agostini, disse que a ajuda nos resgates
é como um código informal de
quem convive com o mar.
Segundo ele, no Iate Clube, onde há 177 lanchas, os donos das
embarcações deixam uma autorização por escrito para que, em caso de acidente, os barcos possam
ser usados no salvamento.
"Nenhum sócio nega socorro.
Eu já ajudei muita gente e fui ajudado também", disse.
Falta de dinheiro
Desde 91, o governo do Estado
discute a implantação de um grupamento aéreo no litoral norte.
Mas, segundo o tenente-coronel
Otacílio Soares de Lima, comandante do grupamento aéreo da
PM no Estado, o projeto não saiu
por falta de dinheiro. Quando
ocorre um acidente como o do último dia 27, é preciso que a PM
acione aeronaves em São Paulo.
Apesar da falta de uma equipe
aérea, o Corpo de Bombeiros enfrenta uma situação mais confortável do que a da Defesa Civil.
Segundo a presidente do Comdec (Comitê Municipal de Defesa
Civil) de Ubatuba, Elizabeth Ferrari Motta, o órgão existe no município há 24 anos e só agora está
sendo estruturado.
Apesar de ter 78 praias e ser
uma dos locais mais frequentados
por turistas na região -as praias
chegam a receber 1 milhão de turistas nos finais de semana da
temporada-, o órgão tem apenas quatro agentes.
"Durante muitos anos, o Comdec não recebeu a atenção que deveria da administração municipal", disse Elizabeth, que dirige
um órgão sem carro próprio e
sem bote de salvamento. Além
disso, não há coletes salva-vidas e
cordas, equipamentos básicos.
Para contornar a falta de estrutura, a Defesa Civil conta com o
apoio da Guarda Civil Municipal,
que auxilia nos plantões noturnos, e de funcionários e veículos
de outras secretarias, nas situações de emergências.
Em Caraguatatuba, apenas dois
homens trabalham como agentes
da Defesa Civil. Segundo a diretora do órgão, Cláudia Ruiz, a equipe tem apenas um carro próprio
-quando é preciso, são acionados os veículos das secretarias e
outros órgãos da prefeitura.
Na cidade, a Defesa Civil também sente a falta de botes, coletes
salva-vidas, rádios HTs e materiais de primeiros-socorros.
Em São Sebastião, a Defesa Civil
tem dez agentes, dois botes infláveis e três rádios HTs, mas não
conta com uma lancha para salvamentos no mar.
O problema é ainda mais grave
em Ilhabela, que não tem nem
mesmo botes.
Texto Anterior: Mortes Próximo Texto: Diniz conta que perdeu namorada quando tentava animá-la a nadar Índice
|