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MOACYR SCLIAR
A velhice dos robôs
Robô facilita vida de idosos em casa
de repouso dos EUA. Os idosos de
uma casa de repouso norte-americana estão recebendo ajuda extra nas
atividades diárias de um robô chamado Pearl. Ele usa ultra-som e laser
para se movimentar na casa de Oakmont, Pensilvânia, relembrando os
moradores de seus afazeres e conversando com eles sobre o tempo e a programação da TV.
Folha Online, Mundo, 31.jul.2002
Babá é flagrada espancando três
crianças.
Cotidiano, 31.jul.2002
Era a opinião unânime
dos residentes da casa geriátrica: o robô era um grande amigo. Fazia-lhes companhia a qualquer hora do dia e da noite, conversava com eles, ainda que naquela voz monocórdica dos equipamentos eletrônicos, prestava-lhes informações. Desempenhava
as suas funções com grande presteza e até humor: cada vez que alguém lhe agradecia, uma frase
aparecia na pequena tela que tinha na testa: "Os humanos têm
muito a aprender com os robôs".
Uma brincadeira do cientista que
o tinha construído e que era conhecido pelo senso de humor.
Pearl prestou serviços durante
muitos anos. No entanto, e como
sempre acontece com engenhos
desse tipo, foi ficando obsoleto.
Novos modelos surgiam, muito
mais aperfeiçoados, modelos que
faziam coisas como dar banho e
servir alimentos. Além disso,
Pearl estava começando a ratear.
"Vai chover", dizia a previsão do
tempo em sua tela. Não chovia:
fazia sol, muito sol. Erros também
apareciam na programação de
TV. Por vezes a voz ficava ininteligível. Mais do que isso, a estrutura de metal começava a apresentar sinais de ferrugem. Pearl,
concluiu o proprietário da casa,
estava no fim. Mas ele não seria
jogado fora; os idosos não admitiriam. De modo que veio um homem e levou-o para o Asilo dos
Robôs, um grande depósito situado nos arredores da cidade. Lá,
Pearl viu-se entre antigos robôs,
alguns datando dos anos 60. Uma
situação deprimente, da qual ele
não se queixou: robôs não se queixam.
Periodicamente aparece um
técnico e examina os veneráveis
engenhos, fazendo um pequeno
conserto aqui e ali. E foi numa
destas visitas que o incidente
aconteceu.
Para se distrair, o técnico trabalhava com a televisão ligada. Naquele momento estava sendo
apresentado o noticiário; e o âncora comentava sobre uma babá
que tinha sido flagrada, por uma
câmera escondida, espancando as
crianças de que deveria cuidar.
- Viu, Pearl? disse ele. - Aí está
uma coisa que você, tenho certeza, não faria.
Neste momento a pequena tela
se acendeu e uma frase apareceu
nela. Aquela velha frase: "Os humanos têm muito a aprender com
os robôs". Outro teria ficado impressionado. Não o técnico. Ele
preferiu atribuir o ocorrido a um
defeito qualquer nos velhos chips
do velho Pearl.
O escritor Moacyr Scliar escreve às segundas-feiras, nesta coluna, um texto de
ficção baseado em reportagens publicadas no jornal.
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