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ÔNIBUS
Motoristas dizem temer demissões de cobradores; novo presidente foi acusado de participar da "máfia dos transportes" em 2003
Sindicato muda e quer atacar bilhete único
ALENCAR IZIDORO
CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
O sindicato dos motoristas e cobradores de ônibus de São Paulo
sofreu ontem uma mudança de
comando para se tornar mais
"agressivo" nas reivindicações da
categoria, algo que poderá trazer
dor de cabeça para a administração Marta Suplicy (PT) a menos
de dois meses das eleições.
O bilhete único, que permite
deslocamentos livres por duas
horas pagando R$ 1,70, será um
dos alvos dos condutores, sob a
alegação de que deverá trazer a
demissão de cobradores.
Eleito para a presidência da entidade em novembro de 2003, para um mandato até 2008, Luiz
Gonçalves, que é filiado ao PT, foi
retirado do cargo pela diretoria e
substituído por Isao Hosogi, conhecido como Jorginho, um dos
melhores amigos de Edivaldo
Santiago desde os anos 70.
Santiago, polêmico ex-presidente do sindicato que adotou
uma estratégia radical de paralisações durante a gestão Luiza Erundina e nos primeiros dois anos do
governo Marta, ficou preso ao lado de Hosogi e de outros 17 sindicalistas no ano passado sob a acusação de liderar um esquema de
organização de greves, que ficou
conhecido como a máfia dos
transportes. Eles conseguiram na
Justiça a possibilidade de responder ao processo em liberdade e se
dizem vítimas de perseguição.
Hosogi nega que tenha havido
um "golpe" na mudança e diz que
Santiago, embora esteja ciente,
não teve interferência. O estatuto
do sindicato, afirma ele, prevê a
possibilidade de remanejamento
de funções entre os diretores -e
Gonçalves foi deslocado para a
Secretaria de Patrimônio.
A saída dele da presidência foi
proposta numa reunião na última
terça-feira com os 12 integrantes
da executiva -5 dos quais também estiveram presos com Santiago. Anteontem à noite, a decisão foi concretizada numa plenária com 50 diretores de garagem.
Gonçalves, que não organizou
nenhuma greve geral na cidade de
São Paulo desde que assumiu, não
se opôs à decisão. "Foi feito um
balanço do meu mandato. Os
problemas apontados pela categoria foram os meus métodos de
condução. Eu optei por ter uma
atuação mais institucional, priorizando a negociação, e não a ação.
A diretoria achou que precisava
mudar, que precisaria ser mais
agressiva. Em virtude de eu ser filiado ao PT, acharam que eu não
faria uma luta assim", afirmou
ele, que será representante da entidade nas próximas discussões
da reforma sindical -motivo que
tem sido alardeado pelos condutores como determinante para essa troca de comando.
"Não significa que agora vai haver uma greve atrás da outra. Mas
poderemos ter uma radicalização,
não ficar tão parado como nos últimos meses. Eu tenho essa característica de ser mais sossegado. O
Jorginho é de ação, ele não tem essa minha paciência, tem um pavio
mais curto", completou.
Os sindicalistas negam a relação
da mudança com as eleições municipais, embora alguns, como
Gonçalves, admitam que haja
uma predisposição da maioria de
apoiar José Serra (PSDB), "até pelos ranços criados com a Marta
nos últimos tempos".
Oficialmente, porém, a chapa
que comanda a entidade decidiu
formalizar apoio a três candidatos
a vereador: Jucelino Gabela
(PSDB), ligado à Uninove (universidade), Eunice Cabral (PDT),
do sindicato das costureiras, e um
sargento da PM militante do PV.
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