São Paulo, quarta, 5 de agosto de 1998

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REMÉDIOS
Medida contraria decisão da Justiça
Schering só atende grávida com cartela

CARLA CONTE
da Reportagem Local

O laboratório Schering do Brasil, que produz o anticoncepcional Microvlar, só está providenciando atendimento médico a grávidas que apresentem a cartela com o número do lote usado no teste com as pílulas de farinha.
A empresa produziu duas toneladas de placebos para teste de máquina de embalagem, mas parte delas chegou às farmácias.
Desde a semana passada, a empresa foi obrigada a colocar à disposição das grávidas uma equipe médica, depois de a Justiça ter concedido uma liminar em favor da ação movida pela Procuradoria Geral do Estado e Procon, que solicitava acompanhamento médico para as vítimas do placebo.
Mas duas grávidas denunciaram que foram encaminhadas a uma clínica em São Paulo, mas o médico disse que só atenderia quem tivesse a cartela.
"Ele disse que sem cartela não há atendimento. Nem a pressão arterial ele tirou", disse a secretária júnior Jocélia Santos, 22.
Segundo a secretária, que está no quarto mês de gravidez, o médico só perguntou quando foi a última menstruação, desde quando tomava a Microvlar e se ela tinha a cartela. "Quando disse que não tinha, acabou o papo. Que essa era a orientação que havia recebido."
O mesmo aconteceu com a paciente Edzângela Oliveira da Silva, 23, grávida de seis meses. Segundo seu marido, Roberto Santos, o médico também afirmou que era preciso a cartela para atender.
"Ele nem examinou a minha mulher. Isso não é dar atendimento médico", disse Santos, que está desempregado há seis meses.
A Schering afirmou inicialmente que estava atendendo todas as mulheres que se cadastravam pelo telefone 0800-551241, alegando que ficaram grávidas enquanto tomavam as pílulas de farinha.
Segundo Cid Scartezzini Filho, um dos advogados da Schering, o juiz Paulo Guilherme Toledo, que concedeu a liminar, fez um despacho determinando que a apresentação da cartela era necessária.
De acordo com a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça, Toledo afirmou que nunca disse à Schering que a cartela era condição básica para o atendimento medico. O juiz disse que essa seria uma das provas que deveriam ser levadas em conta, mas não definiu quais seriam os outros meios para comprovar o uso do placebo.



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