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É preciso ter cuidado, diz morador
DA REPORTAGEM LOCAL
Calças curtas, Luisinho, 6, jogava bola na rua, roubava fruta no
quintal dos vizinhos e, no fim da
tarde, ia nadar no rio Tietê.
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Cabelos brancos, Luís Pedreira
Júnior, 53, luta para preservar a
qualidade de vida dos moradores
da Vila Maria Zélia.
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Quarenta e sete anos separam as
duas fotos acima. Nesse tempo, a
cidade transformou-se. Desordenadamente, cresceu e inchou.
Seus 2 milhões de habitantes hoje
passam de 10 milhões. No rio Tietê há pneus velhos e esgoto. Ninguém mais nada por lá.
A Vila Maria Zélia também mudou. Das 180 casas, só 4 mantêm a
fachada original. A maioria dos
moradores fez um "puxadinho".
Já a área social, que a diferenciou de seu tempo por oferecer
creches e hospitais, lhe dando o
apelido de "a revolucionária", está praticamente acabada.
Ao passear pelas estreitas calçadas, feitas com tijolos quase seculares, Pedreira Júnior volta a ser
Luisinho. Lágrimas contidas, passa pelo prédio que abrigava o Colégio de Meninos, na rua Adílson
Farias Claro -hoje há só uma parede tomada pelo mato no lugar
em que ele estudou.
"Queremos revitalizar a área,
mas com cuidado. A prefeitura
não sabe o impacto que a abertura
do museu e das oficinas causará
na vila", diz Luisinho, que participa ativamente das ações da associação de moradores.
No domingo retrasado, dia 26
de setembro, cerca de 200 ex-moradores da Vila Maria Zélia reuniram-se na sede social para lembrar os velhos tempos. Entre eles
o juiz Ari Casagrande, 69, do Tribunal de Alçada Criminal, que
nasceu na vila em 1935 e só saiu
para se casar, trinta anos depois.
Ele jogou bola no Maria Zélia,
um dos principais times da várzea
paulistana, que revelou craques
como Luizinho Trujilo, destaque
entre os maiores atacantes da história do Corinthians.
O Maria Zélia foi o primeiro clube amador da cidade a ter um
campo com refletores para jogos
noturnos. Tinha até arquibancada para mulheres. Hoje, o campo
virou um hospital público.
"A opinião de quem viveu a história é fundamental para um projeto urbanístico", afirma a historiadora Palmira Petratti Teixeira,
autora do livro "A Fábrica do Sonho", que traça um perfil de Jorge
Street (1863-1939), industrial que
criou a Vila Maria Zélia para acomodar operários de sua fábrica de
tecidos. "Street fez a vila para a comunidade. Temos de respeitar as
raízes", defende Teixeira.
(FS)
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