São Paulo, terça-feira, 05 de outubro de 2004

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É preciso ter cuidado, diz morador

DA REPORTAGEM LOCAL

Calças curtas, Luisinho, 6, jogava bola na rua, roubava fruta no quintal dos vizinhos e, no fim da tarde, ia nadar no rio Tietê.
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Cabelos brancos, Luís Pedreira Júnior, 53, luta para preservar a qualidade de vida dos moradores da Vila Maria Zélia.
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Quarenta e sete anos separam as duas fotos acima. Nesse tempo, a cidade transformou-se. Desordenadamente, cresceu e inchou. Seus 2 milhões de habitantes hoje passam de 10 milhões. No rio Tietê há pneus velhos e esgoto. Ninguém mais nada por lá.
A Vila Maria Zélia também mudou. Das 180 casas, só 4 mantêm a fachada original. A maioria dos moradores fez um "puxadinho".
Já a área social, que a diferenciou de seu tempo por oferecer creches e hospitais, lhe dando o apelido de "a revolucionária", está praticamente acabada.
Ao passear pelas estreitas calçadas, feitas com tijolos quase seculares, Pedreira Júnior volta a ser Luisinho. Lágrimas contidas, passa pelo prédio que abrigava o Colégio de Meninos, na rua Adílson Farias Claro -hoje há só uma parede tomada pelo mato no lugar em que ele estudou.
"Queremos revitalizar a área, mas com cuidado. A prefeitura não sabe o impacto que a abertura do museu e das oficinas causará na vila", diz Luisinho, que participa ativamente das ações da associação de moradores.
No domingo retrasado, dia 26 de setembro, cerca de 200 ex-moradores da Vila Maria Zélia reuniram-se na sede social para lembrar os velhos tempos. Entre eles o juiz Ari Casagrande, 69, do Tribunal de Alçada Criminal, que nasceu na vila em 1935 e só saiu para se casar, trinta anos depois.
Ele jogou bola no Maria Zélia, um dos principais times da várzea paulistana, que revelou craques como Luizinho Trujilo, destaque entre os maiores atacantes da história do Corinthians.
O Maria Zélia foi o primeiro clube amador da cidade a ter um campo com refletores para jogos noturnos. Tinha até arquibancada para mulheres. Hoje, o campo virou um hospital público.
"A opinião de quem viveu a história é fundamental para um projeto urbanístico", afirma a historiadora Palmira Petratti Teixeira, autora do livro "A Fábrica do Sonho", que traça um perfil de Jorge Street (1863-1939), industrial que criou a Vila Maria Zélia para acomodar operários de sua fábrica de tecidos. "Street fez a vila para a comunidade. Temos de respeitar as raízes", defende Teixeira. (FS)


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