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Já foi boa a terra da garoa
BARBARA GANCIA
Colunista da Folha
Está vendo só?
Quando eu digo que São Paulo é
uma cidade de Primeiro Mundo,
ninguém acredita.
Sei que algum desavisado ainda
vai ter a pachorra de achar que
até no quesito serial killer os americanos são mais eficientes do que
a gente.
Mas vamos e venhamos: quantas cidades do mundo podem se
gabar de ter o nosso vasto leque de
opções no menu da violência?
A sacudida Nova York, por acaso, tem degolamento em reformatório público? A gloriosa Berlim
porventura tem chacina todo fim-de-semana?
Pois nós temos tudo e mais um
pouco: degolamento em rebelião
de internato de jovens infratores,
chacinas e agora, veja quanta
modernidade, ganhamos até um
serial killer de metralhadora semi-automática.
Engula essa, você que é contra o
projeto do presidente Fernando
Henrique para acabar com o comércio de armas de fogo!
Trabalho em casa e vira e mexe
paro para observar a molecada do
edifício do outro lado da rua.
Dá um dó.
Dentro da área de lazer do prédio, atrás do portão de grades altas, eles improvisam joguinhos de
hóquei sobre patins, se espremem
para jogar bola ou ficam a brincar, estacionados sobre bicicletas
que não têm espaço para pedalar.
Agora, nem mais no shopping vão
poder se refugiar sem que os pais
morram do coração.
É impossível ter a minha idade,
42 anos, e ser nascida e curtida
nesta cidade sem nutrir algum tipo de nauseabundo saudosismo.
Sei que esse negócio de jovem
amalucado e entupido de testosterona, com acesso a armas de fogo
e que sai por aí fazendo estrago virou um passatempo globalizado.
Mas é impossível deixar de sentir
uma imensa dor por pimpolhos
como a minha sobrinha de 15
anos, que nunca nem sonhou em
subir em uma bicicleta para viver
a louca aventura de ir até os confins do mundo, só para ver de perto o observatório da avenida Indianópolis. Que nunca correu o
risco de ficar mais de mês sem mesada e sem televisão porque quis
pedalar sem permissão no velódromo do Ibirapuera para testar
a potência da sua magrela.
Fomos todos pegos de surpresa.
Nem mesmo o treinadíssimo segurança do shopping, avisado pelo personal trainer que cruzou
com um irado estudante de medicina no banheiro do cinema, quis
acreditar que alguém pudesse
acabar tão abruptamente com a
ilusão pequeno-burguesa de que o
shopping é ilha de tranquilidade.
E agora aguenta.
QUALQUER NOTA
Ô loco!
Dona Maria Prestes Maia deve
estar se revirando no túmulo. E a
Dercy Gonçalves que abra o olho.
Em razão do talento natural para a
comédia que Nicéa Pitta anda demonstrando, periga a Dercy não
arrumar mais trabalho nesta cidade.
Retrocesso
Quando você pensa que a coisa
está evoluindo, pimba! Não é que
os cinemas e a bombonière do
shopping Iguatemi deixaram de
aceitar cheques? Alô, Carlinhos Jereissati! Por que me odeias, se
nunca te ajudei?
Acabamento
Alguém saberia dizer onde foram parar os olhos-de-gato e as
faixas de sinalização dos novos
trechos da Rio-Santos? E o recapeamento? É piada ou o DER também me odeia?
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