São Paulo, Sexta-feira, 05 de Novembro de 1999
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Já foi boa a terra da garoa

BARBARA GANCIA
Colunista da Folha

Está vendo só?
Quando eu digo que São Paulo é uma cidade de Primeiro Mundo, ninguém acredita.
Sei que algum desavisado ainda vai ter a pachorra de achar que até no quesito serial killer os americanos são mais eficientes do que a gente.
Mas vamos e venhamos: quantas cidades do mundo podem se gabar de ter o nosso vasto leque de opções no menu da violência?
A sacudida Nova York, por acaso, tem degolamento em reformatório público? A gloriosa Berlim porventura tem chacina todo fim-de-semana?
Pois nós temos tudo e mais um pouco: degolamento em rebelião de internato de jovens infratores, chacinas e agora, veja quanta modernidade, ganhamos até um serial killer de metralhadora semi-automática.
Engula essa, você que é contra o projeto do presidente Fernando Henrique para acabar com o comércio de armas de fogo!
Trabalho em casa e vira e mexe paro para observar a molecada do edifício do outro lado da rua.
Dá um dó.
Dentro da área de lazer do prédio, atrás do portão de grades altas, eles improvisam joguinhos de hóquei sobre patins, se espremem para jogar bola ou ficam a brincar, estacionados sobre bicicletas que não têm espaço para pedalar. Agora, nem mais no shopping vão poder se refugiar sem que os pais morram do coração.
É impossível ter a minha idade, 42 anos, e ser nascida e curtida nesta cidade sem nutrir algum tipo de nauseabundo saudosismo.
Sei que esse negócio de jovem amalucado e entupido de testosterona, com acesso a armas de fogo e que sai por aí fazendo estrago virou um passatempo globalizado. Mas é impossível deixar de sentir uma imensa dor por pimpolhos como a minha sobrinha de 15 anos, que nunca nem sonhou em subir em uma bicicleta para viver a louca aventura de ir até os confins do mundo, só para ver de perto o observatório da avenida Indianópolis. Que nunca correu o risco de ficar mais de mês sem mesada e sem televisão porque quis pedalar sem permissão no velódromo do Ibirapuera para testar a potência da sua magrela.
Fomos todos pegos de surpresa. Nem mesmo o treinadíssimo segurança do shopping, avisado pelo personal trainer que cruzou com um irado estudante de medicina no banheiro do cinema, quis acreditar que alguém pudesse acabar tão abruptamente com a ilusão pequeno-burguesa de que o shopping é ilha de tranquilidade. E agora aguenta.

QUALQUER NOTA

Ô loco!
Dona Maria Prestes Maia deve estar se revirando no túmulo. E a Dercy Gonçalves que abra o olho. Em razão do talento natural para a comédia que Nicéa Pitta anda demonstrando, periga a Dercy não arrumar mais trabalho nesta cidade.

Retrocesso
Quando você pensa que a coisa está evoluindo, pimba! Não é que os cinemas e a bombonière do shopping Iguatemi deixaram de aceitar cheques? Alô, Carlinhos Jereissati! Por que me odeias, se nunca te ajudei?

Acabamento
Alguém saberia dizer onde foram parar os olhos-de-gato e as faixas de sinalização dos novos trechos da Rio-Santos? E o recapeamento? É piada ou o DER também me odeia?

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E-mail: barbara@uol.com.br


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