São Paulo, Sexta-feira, 05 de Novembro de 1999
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Família de vítima reza para esquecer

da Reportagem Local

A católica família de Júlio Maurício Zeimaitis, que morreu na madrugada de ontem vítima dos disparos de Mateus da Costa Meira, recorre a Deus para tentar se consolar e entender o que aconteceu. No início da tarde de ontem, a mãe de Júlio, Thereza, alternava momentos de lágrimas e silêncio.
Com voz baixa, não demonstrava rancor contra o rapaz que tirou a vida de seu filho. "Vou rezar por ele (Meira)", dizia, manifestando na prática o sentimento cristão do perdão. Quando a dor apertava, murmurava para uma amiga que tentava consolá-la: "Não sei o que vai ser de minha vida sem meu menino".
Apesar dos 29 anos incompletos -faria aniversário em 20 de dezembro -, Júlio tinha uma alegria quase adolescente.
Os amigos e parentes o descreveram como extrovertido, de bem com a vida, divertido e engraçado.
Era capaz de sair todos os dias e ficar com os amigos até de madrugada, mas, no dia seguinte, lá estava ele no trabalho ou nos estudos. Nos fins de semana, frequentava danceterias como a Gitana, na Vila Olímpia, zona sudoeste, ou viajava -aliás, um de seus hobbies preferidos.
Conheceu Cancun, no México, esteve várias vezes nos Estados Unidos (para onde planejava voltar talvez no próximo ano), Canadá (onde esteve entre julho e agosto estudando inglês), e em cidades do litoral brasileiro.
A amiga Fabiana de Carvalho Treu, que estudou com Júlio na Faap e trabalhou com ele na Du Pont, em Alphaville, disse que ele tinha raciocínio rápido e gostava muito de ler. "Ele também adorava filmes americanos."
Júlio estudou engenharia e economia na Faap, mas só se formou na última disciplina. Atualmente, fazia um curso de propaganda e marketing, com duração de seis meses, na ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing). Frequentava o curso duas vezes por semana.
A prima de Júlio, Marcia Dudienas, 33, também recorreu a Deus para explicar a tragédia. "Peço que os pais eduquem seus filhos. Falta Deus na vida dessas pessoas", afirmou.
Ela disse que a família soube da tragédia do cinema pela televisão. "Mas não imaginávamos que ele era uma das vítimas." O telefonema para a casa de Júlio aconteceu depois das 2h. Ana, sua irmã, atendeu. A princípio, pensou que fosse uma brincadeira de mau gosto. Mas depois notou que o irmão não estava em casa.
O pai de Júlio, Juozapas Zeimaitis, ex-professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas), entrou em estado de choque com a notícia e não conseguiu ir ao velório. Há 20 dias, ele deixou o hospital, depois de ter sofrido um infarto.
(CHICO DE GOIS)

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