São Paulo, Sexta-feira, 05 de Novembro de 1999
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Pai de garota morta nem pensa em Justiça, ele só quer saber o porquê
Moacyr Lopes Jr./Folha Imagem
A irmã de Fabiana Lobão Freitas chora ao lado do caixão durante velório no cemitério Gethsêmani, em São Paulo


MARCELO OLIVEIRA
da Reportagem Local

Brilhante, inteligente, dedicada, tímida, bonita, amante das artes e habilidosa no trato com crianças. Essas foram as qualidades de Fabiana Lobão Freitas mais citadas por amigos, familiares e colegas.
Formada em turismo e letras, bolsista de um projeto de arte e educação desenvolvido no Museu de Arte Contemporânea, da USP, fotógrafa free-lance e estudante de licenciatura, Fabiana foi morta justamente quando preparava-se para alçar vôos profissionais e pessoais.
Ela namorava havia sete anos o produtor de cinema Carlos Eduardo Porto Oliveira, 25, o Cadu, com quem pretendia passar uma temporada na França, onde ela faria um curso de fotografia e ele, pós-graduação em cinema.
Os dois, segundo o advogado Álvaro Benedito de Oliveira, 53, pai de Cadu, pretendiam se casar após o período de estudos e estavam iniciando uma poupança.
Ontem, 300 pessoas, entre parentes, amigos e colegas que foram ao velório de Fabiana, faziam a mesma pergunta que seu pai, o geólogo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas Carlos Geraldo Luz de Freitas, 49 -""Por quê?".
Abalado, Freitas não conseguiu acompanhar o sepultamento, que terminou às 17h30 de ontem, até o fim. A mãe de Fabiana, Selma Nicolau Lobão de Freitas, também não conseguia falar. A irmã, Juliana, 17, chorava muito.
Sem condições de dar entrevistas, Freitas delegou à jornalista e amiga Valéria Baracat a tarefa de falar por ele. "Ele não pensa em outra coisa, senão no porquê. Ele não está pensando nem em Justiça", disse a porta-voz.
"Não foi só uma pessoa (Mateus) que assassinou a Fabiana. Foi também quem vendeu a arma e a droga para ele. E as autoridades também, que não cuidam da segurança pública", disse.
Motivos técnicos, segundo o pai de Carlos Eduardo, levaram o filho, Fabiana e mais três colegas da produtora de Cadu a rever o filme "Clube da Luta", que já haviam assistido na segunda-feira.
"Eles foram analisar o filme. O Cadu vai duas vezes por dia ao cinema. Ele gostou muito da fotografia e da edição, não da violência, que ele não gosta por ser evangélico", disse o pai do namorado de Fabiana.
Corintiano, o casal assistiria ao jogo entre Corinthians e Grêmio se não resolvesse ir ao cinema.
No MAC, Fabiana trabalhava no projeto "Museu, Coordenação e o Lúdico". Junto com professoras de escolas públicas e privadas, ela criava jogos baseados nas obras de arte expostas no museu, fotografadas por ela.
"Ela tinha vocação para lidar com crianças e era muito concentrada no trabalho", disse o arte-educador Silvio Coutinho, colega de Fabiana.


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