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FUTURA ADMINISTRAÇÃO
Projeto de descentralização levará até um ano para sair do papel, segundo especialistas e vereadores
Marta terá subprefeitura improvisada
JOÃO CARLOS SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
Em seu primeiro ano de governo, Marta Suplicy (PT) pode ter
de se contentar com implantar
apenas um "embrião" da sua proposta de criar subprefeituras na
cidade de São Paulo.
Com isso, ela terá de conviver
com uma forma de gestão e de
atendimento à população que
considera ultrapassada: as administrações regionais -os órgãos
envolvidos em denúncias de irregularidades e de corrupção na
atual administração.
A avaliação é de especialistas e
vereadores ouvidos pela Folha
sobre a proposta da petista, prevista na Lei Orgânica do Município desde sua promulgação, há
dez anos.
Essa avaliação contrapõe o programa de governo da prefeita eleita. "O governo do PT vai criar desde o primeiro dia de gestão uma
nova lógica de organização política e administrativa capaz de responder às necessidades e demandas da cidade", diz o programa de
Marta sobre a proposta.
O próprio coordenador de campanha de Marta, Rui Falcão, admite que a nova gestão não terá
como assumir e, de imediato, comandar a cidade por meio de subprefeituras, como sugere o programa de governo. "Teremos que
fazer a regulamentação", disse.
Esse processo envolve a elaboração de um projeto de lei e o seu
envio à Câmara. Depois, a proposta terá de ser aprovada.
Para conseguir isso, Marta terá
de superar entraves políticos, pois
a lei que trata da criação de subprefeituras prevê também a escolha de conselhos de representantes para cada novo órgão.
Isso significa que os vereadores
paulistanos terão de aceitar dividir seus redutos eleitorais com
conselheiros que passarão a desempenhar um papel, hoje, exclusivo dos parlamentares: encaminhar pedidos de moradores e fiscalizar as ações dos subprefeitos.
Só após essa etapa toda virá a fase de efetiva implantação do projeto. "Isso tudo pode levar pelo
menos um ano", diz Francisco
Whitaker, coordenador de um
grupo de especialistas convidados
pelo Instituto de Estudo Avançados da Universidade de São Paulo
para discutir e elaborar um projeto para regulamentação de subprefeituras em São Paulo.
O prazo estimado por ele já leva
em conta a vontade política de
Marta e seu desejo de também dividir o poder que ganhou nas urnas para criar uma nova forma de
gerenciar a cidade.
No caso do projeto de subprefeituras elaborado pelo prefeito
Celso Pitta (PTN), por exemplo, a
implantação das nove subprefeituras propostas por ele levaria um
ano para ser concluída. O prazo é
citado no projeto enviado pelo
prefeito ao Legislativo e que deverá ser ignorado por Marta.
Na Câmara também não há o
otimismo do programa de Marta
Suplicy quanto à nova forma de
gestão da cidade.
Segundo a Folha apurou, vereadores petistas consideram que o
projeto levaria, no mínimo, seis
meses para chegar ao Legislativo e
começar a ser discutido.
"Isso não impede que ela (Marta) tenha uma postura de subprefeituras. Por meio de portarias,
pode ser delegado mais poder às
regionais", diz Leonide Tatto, da
Executiva Municipal do PT.
Ele foi administrador regional
no governo da ex-prefeita Luiza
Erundina (89-92) e é um dos autores de uma proposta de implantação de subprefeituras usada no
programa de governo de Marta.
A declaração dele repete a da
prefeita eleita, que já disse que assumirá dando mais poder e responsabilidade às regionais -base da proposta de subprefeituras
defendida pelo PT.
Na Câmara, no entanto, a iniciativa não é encarada como sinônimo de implementação da proposta. "Sem regulamentação não
existe subprefeitura", diz o vereador José Eduardo Cardozo, líder
do PT na Câmara.
Com as subprefeituras, seriam
extintas as atuais 28 administrações regionais que existem em
São Paulo.
No lugar dos administradores
regionais, surgiriam os subprefeitos -função com status de secretário e ligada diretamente à prefeita. Para entender a diferença
entre os cargos, uma comparação
grosseira ajuda.
Os regionais são algo como o zelador de um prédio, responsável
por cuidar do jardim, da limpeza
etc. Nesse contexto, o subprefeito
seria o síndico, que supervisiona,
planeja e manda.
Com isso, em vez da limitada
função das regionais -o gerenciamento do uso e ocupação do
solo e serviços de manutenção,
basicamente- as novas subprefeituras teriam, por exemplo, de
se preocupar também com projetos sociais e gestão da educação e
saúde em sua área de atuação.
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