São Paulo, domingo, 05 de novembro de 2006

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SAÚDE/ IMUNOLOGIA

Viroses respondem por 85% das doenças febris

Diagnóstico pouco específico das infecções virais causam desconfiança nos pais

Por falta de informação ou pressão dos pais, médicos indicam inutilmente o uso de antibióticos, o que pode criar resistência a remédios

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Quatro idas ao hospital em uma semana e o mesmo diagnóstico: "É virose". A experiência é relatada pela economista Sandra Regina Santos, mãe de Clara, 3. Em setembro último, durante oito dias, a menina teve febre e vômitos.
O diagnóstico pouco específico costuma provocar desconfiança nos pais. "Antigamente, as doenças causadas por vírus tinham nome. Agora, a resposta é sempre a mesma: "Todo mundo está pegando, é virose". Os próprios médicos não sabem o que é", queixa-se Sandra.
Em geral, os médicos dão essa resposta quando não é possível identificar o vírus causador do mal-estar. Apesar de inespecífica, não está errada. Toda infecção viral é uma virose. Por haver inúmeros tipos de vírus, é difícil identificar qual o responsável pela infecção.
"Com bactéria é mais fácil. Colho a cultura, tenho o nome e sobrenome da bactéria e sei qual antibiótico indicar. Com vírus, isso não faz parte da rotina. Precisa de laboratório especializado para a análise. E, como a maioria das viroses são benignas, desaparecem em até cinco dias, não vale a pena investir para saber o nome do vírus", explica a infectologista Rosana Richtmann, do Instituto Emílio Ribas.
Diferentemente das bactérias que podem ser combatidas por uma gama enorme de antibióticos, os vírus têm tratamento mais limitado. Os antivirais são indicados somente para casos mais graves -como em alguns casos mais severos de catapora, herpes e hepatites.
Segundo Richtmann, no caso de algumas viroses, é preferível investir em prevenção, por meio das vacinas.
Em hipótese alguma as infecções virais devem ser tratadas com antibióticos, alerta o pediatra Eitan Berezin, presidente do departamento de infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria. "Além de serem inócuos, provocam resistência em relação aos remédios."
Porém, é justamente nas doenças virais que ocorre o maior uso inadequado de antibióticos, segundo Richtmann. "Muitas vezes, por pressão dos pais, os médicos receitam o antibiótico. A criança melhora não por causa do antibiótico, mas porque as viroses passam espontaneamente", diz.
Para o pediatra Berezin, muitas vezes o médico resume o diagnóstico na frase "é virose" e não dá mais explicações por desconhecer o tema virologia. "Há poucas aulas sobre virose na faculdade." Ele diz que isso acontece mais freqüentemente nos prontos-socorros em que os médicos não conhecem o seu paciente e, às vezes, dão antibióticos sem necessidade.
Até 85% das doenças febris na infância são de origem viral, segundo dados da SBP. A partir de um ano, as crianças já perderam a imunidade adquirida da mãe e estão desenvolvendo os seus próprios anticorpos. Ao freqüentar as escolinhas e se relacionar com outras crianças, acabam infectadas.
A maior parte das viroses benignas tem origem em duas "famílias" de vírus: a dos adenovírus (que causam resfriados, conjuntivites e problemas respiratórios em geral) e a dos enterovírus (responsáveis por problemas intestinais, lesões na pele e até meningites).
O vírus influenza, causador da gripe, e o rotavírus também são freqüentes.


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