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SAÚDE/ IMUNOLOGIA
Viroses respondem por 85% das doenças febris
Diagnóstico pouco específico das infecções virais causam desconfiança nos pais
Por falta de informação ou pressão dos pais, médicos indicam inutilmente o uso de antibióticos, o que pode criar resistência a remédios
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Quatro idas ao hospital em
uma semana e o mesmo diagnóstico: "É virose". A experiência é relatada pela economista
Sandra Regina Santos, mãe de
Clara, 3. Em setembro último,
durante oito dias, a menina teve febre e vômitos.
O diagnóstico pouco específico costuma provocar desconfiança nos pais. "Antigamente,
as doenças causadas por vírus
tinham nome. Agora, a resposta
é sempre a mesma: "Todo mundo está pegando, é virose". Os
próprios médicos não sabem o
que é", queixa-se Sandra.
Em geral, os médicos dão essa resposta quando não é possível identificar o vírus causador
do mal-estar. Apesar de inespecífica, não está errada. Toda infecção viral é uma virose. Por
haver inúmeros tipos de vírus,
é difícil identificar qual o responsável pela infecção.
"Com bactéria é mais fácil.
Colho a cultura, tenho o nome e
sobrenome da bactéria e sei
qual antibiótico indicar. Com
vírus, isso não faz parte da rotina. Precisa de laboratório especializado para a análise. E, como a maioria das viroses são
benignas, desaparecem em até
cinco dias, não vale a pena investir para saber o nome do vírus", explica a infectologista
Rosana Richtmann, do Instituto Emílio Ribas.
Diferentemente das bactérias que podem ser combatidas
por uma gama enorme de antibióticos, os vírus têm tratamento mais limitado. Os antivirais são indicados somente para casos mais graves -como em
alguns casos mais severos de
catapora, herpes e hepatites.
Segundo Richtmann, no caso
de algumas viroses, é preferível
investir em prevenção, por
meio das vacinas.
Em hipótese alguma as infecções virais devem ser tratadas
com antibióticos, alerta o pediatra Eitan Berezin, presidente do departamento de infectologia da Sociedade Brasileira de
Pediatria. "Além de serem inócuos, provocam resistência em
relação aos remédios."
Porém, é justamente nas
doenças virais que ocorre o
maior uso inadequado de antibióticos, segundo Richtmann.
"Muitas vezes, por pressão dos
pais, os médicos receitam o antibiótico. A criança melhora
não por causa do antibiótico,
mas porque as viroses passam
espontaneamente", diz.
Para o pediatra Berezin, muitas vezes o médico resume o
diagnóstico na frase "é virose" e
não dá mais explicações por
desconhecer o tema virologia.
"Há poucas aulas sobre virose
na faculdade." Ele diz que isso
acontece mais freqüentemente
nos prontos-socorros em que
os médicos não conhecem o seu
paciente e, às vezes, dão antibióticos sem necessidade.
Até 85% das doenças febris
na infância são de origem viral,
segundo dados da SBP. A partir
de um ano, as crianças já perderam a imunidade adquirida da
mãe e estão desenvolvendo os
seus próprios anticorpos. Ao
freqüentar as escolinhas e se
relacionar com outras crianças,
acabam infectadas.
A maior parte das viroses benignas tem origem em duas "famílias" de vírus: a dos adenovírus (que causam resfriados,
conjuntivites e problemas respiratórios em geral) e a dos enterovírus (responsáveis por
problemas intestinais, lesões
na pele e até meningites).
O vírus influenza, causador
da gripe, e o rotavírus também
são freqüentes.
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