São Paulo, domingo, 05 de novembro de 2006

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Plantão Médico

Pesquisas sobre a doença de Hansen

JULIO ABRAMCZYK
COLUNISTA DA FOLHA

Não é fácil lutar contra um estigma. Ainda mais quando é uma doença marcada por um estigma bíblico que confunde a psoríase, uma doença de pele, com a lepra, e dá à palavra um sentido pejorativo.
O professor Abrahão Rotberg, morto dia 1º deste mês aos 94 anos, além de sua contribuição científica para o avanço no conhecimento e tratamento da doença, conseguiu minimizar o preconceito.
Em 1977, propôs -e conseguiu- substituir o termo "lepra" por hanseníase, em homenagem ao norueguês Hansen, que identificou a bactéria da infecção. Nos papéis oficiais do governo brasileiro, foi abolido o uso da palavra pejorativa. Substituída por hanseníase, os doentes deixaram de ser marginalizados por uma doença que tem tratamento e está em vias de extinção.
Ao assumir a diretoria do Departamento de Profilaxia da Lepra na gestão de Walter Leser na secretaria da Saúde do Estado em 1967, transformou-o para Dermatologia Sanitária. E acabou com o isolamento compulsório dos doentes de hanseníase no Estado.
A pesquisa de Rotberg na área da alergia e imunologia da hanseníase projetaram-no mundialmente. Considerada pelos especialistas "genial doutrina da margem-Hansen anérgica e do Fator N de resistência natural na hanseníase", sua teoria foi esboçada na tese de doutorado, em 1934, na Faculdade de Medicina de São Paulo, aos 21 anos de idade, ampliada em 1937 e reconhecida há mais de 50 anos.
Os trabalhos de Rotberg levaram à classificação científica da doença, ratificada em congressos mundiais. Abrahão Rotberg foi professor titular de dermatologia da Escola Paulista de Medicina/Unifesp (1958-1973) e da Faculdade de Medicina de Taubaté (1970-1973). Foi perito da Organização Mundial da Saúde e diretor do Instituto de Pesquisas do DPL (Departamento de Profilaxia da Lepra). Manteve-se lúcido e em atividade em seu consultório até os 90 anos, aposentado-se somente nos últimos quatro anos.

julio@uol.com.br


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