|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Plantão Médico
Pesquisas sobre a doença de Hansen
JULIO ABRAMCZYK
COLUNISTA DA FOLHA
Não é fácil lutar contra um
estigma. Ainda mais quando é
uma doença marcada por um
estigma bíblico que confunde
a psoríase, uma doença de pele, com a lepra, e dá à palavra
um sentido pejorativo.
O professor Abrahão Rotberg, morto dia 1º deste mês
aos 94 anos, além de sua contribuição científica para o
avanço no conhecimento e tratamento da doença, conseguiu minimizar o preconceito.
Em 1977, propôs -e conseguiu- substituir o termo "lepra" por hanseníase, em homenagem ao norueguês Hansen, que identificou a bactéria
da infecção. Nos papéis oficiais do governo brasileiro, foi
abolido o uso da palavra pejorativa. Substituída por hanseníase, os doentes deixaram de ser marginalizados por uma
doença que tem tratamento e
está em vias de extinção.
Ao assumir a diretoria do
Departamento de Profilaxia
da Lepra na gestão de Walter
Leser na secretaria da Saúde
do Estado em 1967, transformou-o para Dermatologia Sanitária. E acabou com o isolamento compulsório dos doentes de hanseníase no Estado.
A pesquisa de Rotberg na
área da alergia e imunologia
da hanseníase projetaram-no
mundialmente. Considerada
pelos especialistas "genial
doutrina da margem-Hansen
anérgica e do Fator N de resistência natural na hanseníase",
sua teoria foi esboçada na tese
de doutorado, em 1934, na Faculdade de Medicina de São
Paulo, aos 21 anos de idade,
ampliada em 1937 e reconhecida há mais de 50 anos.
Os trabalhos de Rotberg levaram à classificação científica da doença, ratificada em congressos mundiais. Abrahão Rotberg foi professor titular de dermatologia da Escola Paulista de Medicina/Unifesp
(1958-1973) e da Faculdade de
Medicina de Taubaté (1970-1973). Foi perito da Organização Mundial da Saúde e diretor do Instituto de Pesquisas
do DPL (Departamento de
Profilaxia da Lepra). Manteve-se lúcido e em atividade em
seu consultório até os 90 anos,
aposentado-se somente nos
últimos quatro anos.
julio@uol.com.br
Texto Anterior: Conjuntivite, dengue, meningites virais e hepatite A são mais comuns no verão Próximo Texto: Mais Saudável Índice
|