São Paulo, terça-feira, 05 de dezembro de 2000

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FEBEM

Batoré, 17, acusado de ter matado 15 pessoas, é resgatado por um bando quando era levado ao fórum para depoimento

Polícia faz "caçada" a infrator homicida

GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo vai começar a "caçar" a partir de hoje o adolescente F.P.,17, conhecido como Batoré. Ele foi resgatado ontem, às 11h40, quando estava em uma perua da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor), na ponte do Tatuapé.
Preso pela polícia, no último dia 22, ele confessou a autoria de 15 homicídios (inclusive de três policiais) e ter participado de cerca de 50 sequestros relâmpago.
Batoré, acompanhado de dois agentes de proteção (desarmados), estava sendo transportado da unidade de Franco da Rocha para o Fórum da Infância e da Juventude, no centro, para ter a primeira audiência com o juiz da 2ª Vara, Rodrigo Soares.
A perua da Febem, apesar de estar transportando um adolescente considerado perigoso (já fugiu pelo menos sete vezes da Febem), não tinha escolta policial. Os monitores da instituição são proibidos de portar armas.
O advogado Ariel de Castro Alves (Movimento Estadual de Defesa dos Direitos Humanos), que esteve na Promotoria há duas semanas acompanhando um depoimento de Batoré, disse que ele nega a autoria dos homicídios.
O infrator teria dito que a confissão foi feita à polícia sob tortura. No entanto, ele diz ter participado de sequestros relâmpago.
Na Promotoria, Batoré mostrou marcas nos pulsos, como se tivesse sido imobilizado com fios, e nas costas. Segundo ele, os sinais teriam sido feitos na confissão.
A audiência de ontem seria sobre um processo de roubo e receptação. Batoré tem oito passagens pela Febem, sete das quais por meio de operações de busca e apreensão.
O adolescente, que na Febem é conhecido como Binho, esteve na extinta Imigrantes, cadeião de Pinheiros e em Santo André, de onde fugiu uma semana antes de a unidade ser desativada.
Batoré agia na zona leste. Por isso, após sua prisão, policiais da 5ª Seccional disseram que diversos inquéritos que apuram homicídios e latrocínios (roubo seguido de morte) na área do 59º DP e do 22º DP (ambos naquela região) deverão ser esclarecidos.
F.P. é filho de uma cozinheira e tem um casal de irmãos sem passagens pela polícia ou pela Febem.
A promotora Suely Riviera, que ouviu Batoré quando ele chegou à UAI (Unidade de Acolhimento Inicial), diz que a fundação deveria ter sido mais cuidadosa no transporte desse adolescente.
Segundo Antônio Gilberto da Silva, do Sindicato dos Funcionários da Febem, o transporte é feito em "peruas velhas que mal rodam" e sem escolta.

Outro lado
A Febem informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não há dispositivo legal que obrigue a instituição a transportar adolescentes com escolta. Por medida de segurança, os adolescentes são algemados durante o percurso.



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