São Paulo, terça-feira, 05 de dezembro de 2000

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São Paulo pode virar uma não-cidade

DO PROGRAMA DE QUALIDADE


"Do jeito que está, São Paulo vai virar a não-cidade, a antítese da comunhão cívica." O autor da frase é o historiador Nicolau Sevcenko, morador do bairro do Belém, que faz questão de viver em uma casa à antiga, com grades baixas.
Sevcenko não fica com medo? "São Paulo se tornou ameaçadora. Sinto a ameaça na minha casa. Mas foi uma opção deliberada a de não aceitar o auto-encarceramento. Todos sentimos a insegurança. Todos sentimos a ação ineficiente das autoridades, que não atacam o fundamento social do problema. A vida social se esvai, mas ela é o fundamento da espécie", afirma ele.
Para o historiador, a cidade se transformou num gigantesco acampamento militar, em que os cidadãos têm feições agressivas. "Os muros sobem e apresentam um espetáculo degradante. Indispõem uns contra outros."
Ele ressalta que essas fortificações urbanas não são um fenômeno estritamente brasileiro, mas algo ligado à concentração de renda em todo o planeta.
O Belém é um bairro antigo, que data do início da industrialização de São Paulo, assim como o Brás e o Pari, bairros próximos. Ali se preservou certa integração comunitária, diz Sevcenko. "Pode-se ver o quanto é pernicioso o encapsulamento, o quanto os indivíduos se isolam." (ECD)



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