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ADMINISTRAÇÃO
A parcela de resíduos recicláveis, que podem não ser contabilizados no valor da taxa de lixo, chega a até 40%
Atraso na coleta seletiva onera paulistano
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
A Prefeitura de São Paulo diz esperar que a cobrança da taxa pelo
lixo tenha, além do caráter arrecadatório, a "função pedagógica" de
forçar o paulistano a reduzir a
quantidade de resíduos que produz por dia. Mas a administração
petista termina a metade de seu
tempo de governo sem oferecer
ao morador da maior cidade brasileira um dos principais instrumentos para conseguir pagar menos pelo lixo: a coleta seletiva.
A Secretaria de Serviços e Obras
(SSO) tinha, no início do ano, o
plano de colocar para funcionar,
até o fim de dezembro, sete centros de triagem de material reciclável na capital, que seriam operados por catadores organizados
em cooperativas. Por problemas
com o andamento das licitações
para compra de equipamentos e
veículos, porém, só um local será
finalizado e deverá ser inaugurado oficialmente em janeiro.
Por causa do atraso na entrega
dos centros, dos R$ 6,9 milhões
que deveriam ter sido destinados
à coleta seletiva em 2002, só R$ 1,1
milhão foram efetivamente gastos
-o resto da verba acabou indo,
em sua maioria, para os projetos
sociais. Para 2003, os recursos da
proposta orçamentária são da ordem de R$ 7 milhões -58% dos
R$ 12 milhões pedidos pela Secretaria de Serviços e Obras.
A percentagem de lixo doméstico passível de ser reciclado -e
que deve, portanto, deixar de ser
entregue à coleta regular e, por isso, ser excluída da contabilização
da taxa de lixo- pode chegar a
quase 40% de tudo o que é produzido, caso a separação entre material orgânico (ou molhado) e material reaproveitável (seco) seja
completa. É essa a parcela reciclável das cerca de 14 mil toneladas
de resíduos geradas diariamente
na cidade de São Paulo, segundo
estudo de 2000 realizado pelo
Limpurb (Departamento de Limpeza Urbana).
O desconto no eventual pagamento da taxa de lixo é previsto
no próprio projeto de lei que a
institui, encaminhado anteontem
em regime de urgência à Câmara
Municipal. Pela proposta, a cobrança deverá variar, para imóveis residenciais, entre R$ 6,14 e
R$ 61,36 por mês, segundo declaração do volume de lixo gerado.
A coleta seletiva oficial na capital (remanescente da gestão Luiza
Erundina) só representa hoje
0,03% do total. Uma alternativa
de reciclagem é separar o material
e entregá-lo a um dos 73 grupos
organizados de catadores que
atuam na cidade, em supermercados ou a entidades beneficentes.
"Poderíamos fazer a coleta seletiva a qualquer momento, bastaria acionar uma cláusula do contrato das empresas que prestam
serviços de limpeza hoje na cidade. Mas não é isso que queremos.
Nosso projeto da Coleta Seletiva
Solidária é feito com os catadores,
para promover inclusão social. Isso demanda não só recursos, mas
também organização. Não é fácil", afirma Maria Inês Bertão,
responsável pelo projeto na SSO.
Ela admite esperar uma pressão
maior da população caso a lei da
taxa do lixo seja aprovada pelos
vereadores. "O processo será gradual." Os planos da secretaria
agora são inaugurar quatro centros de triagem (na Mooca, Vila
Leopoldina, Sé e Vila Maria) até o
fim de 2003. Mais sete estão previstos até o fim do governo.
"O processo é complexo e desafiador, mas está muito lento porque não parece ser prioritário para a prefeitura. Tudo o que [a gestão Marta Suplicy] quis que acontecesse aconteceu, basta ver os
programas sociais. Mas esse projeto, que é talvez o melhor programa social da prefeitura, não sai",
reclama Elisabeth Grimberg,
coordenadora de ambiente urbano do Instituto Pólis e coordenadora-geral do Fórum Lixo e Cidadania da Cidade de São Paulo.
O Pólis promoveu ontem e hoje
o 1º Encontro de Educação Socioambiental e o Programa Coleta
Seletiva Solidária da Cidade de
São Paulo, que reuniu cerca de
cem representantes do poder municipal, ONGs, associações empresariais de reciclagem e dos
grupos de catadores organizados.
"Depois que conseguirmos vencer a inércia inicial, vamos botar o
carro para andar e, com certeza,
será mais fácil. Mas quero deixar
claro, de uma vez por todas, que a
prefeitura não tem a intenção de
abandonar o projeto de coleta seletiva", disse o secretário de Serviços e Obras, Jorge Hereda, no discurso de abertura do evento.
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