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MENOR INFRATOR
Entidades pedem fechamento do complexo de Franco da Rocha; jovem perde o baço após suposto espancamento
OAB aponta unidade de tortura na Febem
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP (Ordem dos Advogados do Brasil) e entidades de
defesa do menor apontam o complexo da Febem (Fundação Estadual do Bem Estar do Menor) em
Franco da Rocha (Grande São
Paulo) como um centro de maus-tratos aos menores infratores e
pedem seu fechamento imediato.
As denúncias de espancamento
coletivo, tortura e abuso sexual
supostamente ocorridas nas unidades 30 e 31 do complexo de
Franco da Rocha foram descritas
em um relatório divulgado ontem
pela comissão da OAB.
A agressão mais recente teria resultado na internação hospitalar,
na semana passada, do adolescente C.R.B., 17, que teve o baço
retirado. Ele teria sido espancado
por funcionários da unidade 31,
onde está há sete meses.
Os integrantes da comissão
classificaram o estado das coisas
em Franco da Rocha como uma
"nova Imigrantes" -referência à
unidade da Febem desativada em
1999 depois da maior rebelião de
sua história, com 18 horas de conflito e quatro menores mortos.
As instalações em Franco da
Rocha foram construídas para
abrigar um Centro de Detenção
Provisória, destinado a presos comuns, mas virou uma unidade da
Febem para abrigar justamente os
remanescentes da Imigrantes.
Depois da desativação em 1999,
parte dos adolescentes foi distribuída nos cadeiões de Pinheiros,
Santo André e no COC (Centro de
Observação Criminológica), no
complexo do Carandiru. Em
maio de 2000, eles foram para
Franco da Rocha.
"A estrutura da tortura e dos
maus-tratos empregada em Franco da Rocha é a mesma adotada
na Imigrantes. Podemos ter a reedição daquele fim trágico", afirmou o padre Júlio Lancelloti, da
Pastoral do Menor.
O relatório da comissão da OAB
nasceu de uma visita ao complexo
em 11 de novembro. Segundo o
documento, só a visita à ala F da
unidade 31, por exemplo, constatou que 32 dos 34 menores presentes apresentavam marcas de
espancamento e maus-tratos.
A agente administrativa desempregada Edna Francisco da Rocha, 37, mãe do adolescente que
perdeu o baço, fez questão de dar
seu depoimento ontem. "Fui informada pela Febem que meu filho estava com dor de estômago.
Fui ao hospital e descobri que ele
teve o baço retirado por causa das
agressões", afirmou. "Meu filho
me conta que já não sente mais
dor de tanto apanhar na Febem."
O adolescente D.C.P., 17, que ficou cinco meses na fundação e
saiu em julho, foi outro a falar. Ele
ficou na unidade do Brás, na capital paulista. "Eu apanhava quase
todo dia. Tinha de colocar os braços para trás e baixar a cabeça antes de levar tapas e socos", relatou.
A denúncia de abuso sexual, publicada pela Folha em 30 de outubro, também foi incluída no relatório da comissão da OAB. Segundo as entidades, um funcionário
teria obrigado, em julho último,
um adolescente a fazer sexo oral.
"O complexo de Franco da Rocha é um barril de pólvora, que
pode explodir a qualquer momento", disse Ariel de Castro Neves, coordenador do Movimento
dos Direitos Humanos e integrante da comissão da OAB.
O relatório será encaminhado
ao Tribunal de Justiça, ao Ministério Público e também a entidades internacionais, como a ONU
(Organização das Nações Unidas), a OEA (Organização dos Estados Americanos) e a Anistia Internacional.
A OAB também vai solicitar que
a entidade faça uma ação civil pública pedindo o fechamento de
Franco da Rocha.
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