São Paulo, terça-feira, 05 de dezembro de 2006

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O PRECAVIDO

Guarda-chuvas do amor estão abertos, corra para o seu

XICO SÁ
COLUNISTA DA FOLHA

Desço a Augusta com o meu guarda-chuva gigante, isso é um problema, porque essa gente não preza mais pela etiqueta de andar de guarda-chuva nas ruas em dias de tempestade. Vira guerra, ninguém ergue mais o elegante objeto para a passagem de outrem. Uma guerra picaresca ao estilo capa-espada.
Sigo rumo à praça da Sé, vou retirar um documento no Poupatempo, dançando na chuva como um Fred Astaire, essa é a graça de não ser um enfezado motorista em São Paulo. Pedestre convicto e para sempre, tenho só de me livrar dos banhos de lama dos selvagens sobre quatro rodas, essa sim praga da cidade em qualquer época.
Aprendi com um avô de Exu (PE), nunca falar mal da chuva, foi ele que me ensinou a tirar proveito dos banhos de açude nos raros anos de festa. Ontem, ao chegar à Sé, vi a comoção dos nordestinos sob o céu que desabava. Aqui eles não têm roça, aqui não plantam, aqui a chuva muitas vezes os castiga com quedas de barraco, mas é a comoção inexplicável que ficou guardada nos dias de estiagem que secavam até lágrimas.
Volto e logo ali, na subida da Martins Fontes, a linda balconista, biquinhos de peitos pueris, desmancha a chapinha do cabelo falsamente loiro em um beijo de tirar o fôlego do noivo. Os guarda-chuvas do amor estão abertos, corra para debaixo do seu enquanto é tempo!


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