|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O PRECAVIDO
Guarda-chuvas do amor estão abertos, corra para o seu
XICO SÁ
COLUNISTA DA FOLHA
Desço a Augusta com o meu
guarda-chuva gigante, isso é
um problema, porque essa gente não preza mais pela etiqueta
de andar de guarda-chuva nas
ruas em dias de tempestade. Vira guerra, ninguém ergue mais
o elegante objeto para a passagem de outrem. Uma guerra picaresca ao estilo capa-espada.
Sigo rumo à praça da Sé, vou
retirar um documento no Poupatempo, dançando na chuva
como um Fred Astaire, essa é a
graça de não ser um enfezado
motorista em São Paulo. Pedestre convicto e para sempre, tenho só de me livrar dos banhos
de lama dos selvagens sobre
quatro rodas, essa sim praga da
cidade em qualquer época.
Aprendi com um avô de Exu
(PE), nunca falar mal da chuva,
foi ele que me ensinou a tirar
proveito dos banhos de açude
nos raros anos de festa. Ontem,
ao chegar à Sé, vi a comoção dos
nordestinos sob o céu que desabava. Aqui eles não têm roça,
aqui não plantam, aqui a chuva
muitas vezes os castiga com
quedas de barraco, mas é a comoção inexplicável que ficou
guardada nos dias de estiagem
que secavam até lágrimas.
Volto e logo ali, na subida da
Martins Fontes, a linda balconista, biquinhos de peitos pueris, desmancha a chapinha do
cabelo falsamente loiro em um
beijo de tirar o fôlego do noivo.
Os guarda-chuvas do amor estão abertos, corra para debaixo
do seu enquanto é tempo!
Texto Anterior: A isolada Próximo Texto: Administração: Custo em obra de túnel é investigado Índice
|