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A ISOLADA
Sem pó de café e presa em casa, me senti solitária
NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA
Ter a possibilidade de ficar
em casa em um dia de chuva é
um privilégio. Tenho noção.
Mas ficar presa em casa também tem suas desvantagens.
Principalmente se você não
tem guarda-chuva. Nem carro.
Isso significa que você é obrigada a ficar literalmente refém de
seu próprio lar e escritório.
Resultado: um dia inteiro
sem tomar café (o pó tinha acabado, soube assim que pedi pra
Suely, que trabalha comigo, fazer um café pra gente). Como
ela não tem guarda-chuva nem
carro, passamos a tarde com
síndrome de abstinência.
Também deixei de ir ao banco pagar contas atrasadas. Sair
de táxi (até chegar ao ponto estaria encharcada) e pagar um
milhão pela corrida, porque a
Teodoro Sampaio tinha virado
uma espécie de Tietê, é pior que
ver a multa da conta crescer.
Mas o pior é a sensação de
claustrofobia. Sozinha em casa,
sem café, comecei a me sentir
isolada. Meus amigos começaram a ligar ao mesmo tempo,
com a mesma informação: estavam presos no engarrafamento. Se precisasse deles para curar a abstinência de café, não
poderiam me salvar. E a conta
de celular só sobe. Uma amiga
jamais desliga o telefone de outra que ligou sozinha do táxi parado na Paulista ou na Berrini
após um dia de trabalho. Dia de
tempestade pode ser solitário.
NINA LEMOS, 36, mora e trabalha em Pinheiros.
Não sabe dirigir e sempre perde guarda-chuvas
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