São Paulo, terça-feira, 06 de janeiro de 2004

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DIPLOMACIA

No Rio, turistas dizem que havia um único funcionário para tomar impressões digitais; SP acelerou processo, afirma PF

Americanos ficam até 7 horas no Galeão

Felipe Varanda/Folha Imagem
Alunos da Columbia University no saguão do Aeroporto Internacional do Rio, após enfrentarem demora para serem fichados pela PF


TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

Pelo menos 300 turistas norte-americanos vindos em cinco vôos enfrentaram ontem uma espera de até sete horas até começarem a ser fichados no Rio de Janeiro.
Eles permaneceram em uma sala do terminal 2 do aeroporto do Galeão, na Ilha do Governador, enquanto aguardavam o início do atendimento. Todos os dias o aeroporto recebe entre 500 e mil norte-americanos.
Um outro grupo (não foi informado o número de pessoas), que desembarcou dos EUA no terminal 1, também enfrentou a lentidão no atendimento, que durou até por volta das 15h30.
A medida obedece a uma determinação do juiz federal Julier Sebastião da Silva, de Mato Grosso, baseada no conceito da reciprocidade diplomática. Desde ontem, os brasileiros que chegam aos portos e aeroportos dos Estados Unidos estão sendo fichados.
Segundo informações de funcionários do aeroporto e de passageiros, apenas um policial federal tirava fotos e colhia as impressões digitais dos turistas. Ao todo, dez vôos vindos dos EUA chegaram aos dois terminais.
Só depois de liberados os passageiros do terminal 1, por volta das 15h30, é que os turistas do terminal 2 começaram a ser atendidos -parte deles havia desembarcado às 9h. Uma representante do consulado americano foi chamada por telefone pelos passageiros. Ela não falou com os jornalistas.
A reclamação dos turistas não era em razão de serem fichados, mas por causa da longa espera sem explicação e do sistema de trabalho da PF -fotografias com câmera instantânea e impressão digital com tinta nos dez dedos.
"É uma vergonha para um país deixar os turistas esperando das 9h às 16h no aeroporto. Eu ia visitar 17 pontos do Rio, agora vou visitar um: a cama do hotel", disse Scott Hall, 40, de Boston.
Um grupo de 58 universitários da Califórnia também perdeu os passeios. Eles seguem amanhã para Foz do Iguaçu. "É frustrante e injusto ficar o dia inteiro sem comer, sem sair. Eu me senti uma refém", disse Amanda Eckel, 22.
Às 21h, a PF informou que todos os passageiros haviam sido atendidos, mas não divulgou o número de turistas fichados.
Antes de saber do atraso no trabalho, o prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), disse à Folha, por e-mail, que o "turismo é difundido boca a boca" e que "a experiência de um turista é repassada a seus amigos e familiares", portanto é possível que americanos deixem de visitar o Rio. Ele afirmou que a Procuradoria Geral do Município entrará com uma ação na Justiça.
O presidente da Associação Brasileira de Agências Receptivas, Roberto Dultra, disse que a medida pode prejudicar o turismo no Rio, às vésperas do Carnaval. "O turismo brasileiro tem metas de chegar a 9 milhões de turistas por ano, até 2007, o que vai gerar 1,2 milhão de empregos. Corre o risco de a gente não conseguir atingir a meta, por excluir os americanos do nosso mercado", disse.
A assessoria de imprensa da PF informou que a superintendência do Rio não havia recebido nenhuma reclamação sobre a demora na identificação de passageiros até o fim da tarde de ontem. Segundo a assessoria, todo o efetivo da delegacia da PF no aeroporto estava fazendo esse trabalho, mas não soube informar quantos policiais estavam mobilizados.

São Paulo
Em São Paulo, o processo de identificação dos passageiros norte-americanos transcorreu sem problemas. Para acelerar o processo, a PF está, desde domingo, registrando apenas a impressão digital do polegar direito, em vez de todos os dedos. O tempo necessário para a identificação dos passageiros diminuiu de seis minutos para dois, segundo a PF.


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