São Paulo, #!L#Domingo, 06 de Fevereiro de 2000


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SAÚDE
Embalagem traz risco de contaminação

ALCINO BARBOSA JR.
especial para a Folha

As embalagens e recipientes utilizados para guardar alimentos e bebidas podem causar problemas à saúde do consumidor. O risco se encontra na transferência de substâncias tóxicas do material de fabricação para o alimento.
Garrafas e copos plásticos, latas de alumínio, panelas de teflon, travessas de cerâmica vitrificada e papel de bombom, entre outros, contêm produtos químicos que podem causar intoxicação aguda ou até mesmo câncer a longo prazo (veja tabela nesta página).
Temperar uma simples salada ou fazer um suco de frutas no recipiente errado pode trazer complicações à saúde (veja texto nesta página).
Alguns efeitos, porém, são apresentados com exagero. É o caso de uma mensagem que tem circulado pela Internet sobre transmissão de leptospirose em latas de refrigerantes e cervejas.
As latas seriam guardadas em depósitos sujos, e a urina de ratos desses locais teria sido responsável por casos da doença em consumidores que não limparam as latas adequadamente.
Especialistas dizem que lavar as latas é uma medida higiênica, mas praticamente descartam a possibilidade de transmissão de leptospirose dessa forma.
Segundo o médico Anthony Wong, diretor do Ceatox (Centro de Assistência Toxicológica, do Hospital das Clínicas de São Paulo), as substâncias encontradas em embalagens "são um problema sério em medicina ocupacional e ambiental, pois acometem mais os trabalhadores de indústrias de plástico e a comunidade ao seu redor; nos alimentos, o risco existe, mas é menor".
Entre as substâncias de toxicidade comprovada que são componentes de embalagens e recipientes, algumas recebem mais atenção dos pesquisadores porque em certas condições podem "migrar" para os alimentos.
Existe uma concentração máxima dessas substâncias, determinada pela legislação brasileira e baseada nos critérios da FDA (Food and Drug Administration, agência norte-americana que controla remédios e alimentos), da União Européia e em pesquisas de laboratórios nacionais. Quando esse limite não é ultrapassado, não há prejuízo à saúde do consumidor.
Os sais de chumbo e de cádmio, de travessas e jarras vitrificadas, são um exemplo. Eles provocam intoxicação aguda, quando ingeridos em excesso, ou sequelas a longo prazo, pois têm efeito cumulativo, ou seja, não são eliminados completamente pelo organismo e se depositam em órgãos e tecidos.
Os problemas agudos causados pelo chumbo são cólica abdominal, anemia e sintomas neurológicos, que variam de uma simples sonolência com dificuldade de concentração, tontura e dor de cabeça até convulsões e coma. Após exposição prolongada, o chumbo pode causar insuficiência renal.
O cádmio, quando ingerido em grande quantidade, provoca náuseas, vômitos, cólica abdominal e dores musculares. Com o decorrer do tempo, também pode causar lesão renal. Quando inalado, o cádmio induz o desenvolvimento de câncer no pulmão.
"No Brasil, a principal fonte de contaminação de chumbo são os alimentos", adverte Wong. Em outros países que ainda não proibiram a adição de chumbo tetraetila à gasolina, como o Chile e o México, a poluição ambiental é a principal fonte de contaminação.
Outra classe de substâncias que preocupa os pesquisadores são os polímeros de plásticos. Durante a produção desses polímeros, os monômeros (moléculas menores que sofrem reações químicas para se unirem) podem permanecer misturados ao produto final.
Há monômeros (cloreto de vinila, estireno e acrilonitrila) considerados indutores de câncer.
A acrilonitrila, encontrada em celofane e acrílico, causou má-formação em embriões de animais de laboratório e induziu câncer em ratos quando ingerida.




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