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SAÚDE
Embalagem traz risco de contaminação
ALCINO BARBOSA JR.
especial para a Folha
As embalagens e recipientes utilizados para guardar alimentos e
bebidas podem causar problemas
à saúde do consumidor. O risco se
encontra na transferência de
substâncias tóxicas do material de
fabricação para o alimento.
Garrafas e copos plásticos, latas
de alumínio, panelas de teflon,
travessas de cerâmica vitrificada e
papel de bombom, entre outros,
contêm produtos químicos que
podem causar intoxicação aguda
ou até mesmo câncer a longo prazo (veja tabela nesta página).
Temperar uma simples salada
ou fazer um suco de frutas no recipiente errado pode trazer complicações à saúde (veja texto nesta
página).
Alguns efeitos, porém, são apresentados com exagero. É o caso de
uma mensagem que tem circulado pela Internet sobre transmissão de leptospirose em latas de refrigerantes e cervejas.
As latas seriam guardadas em
depósitos sujos, e a urina de ratos
desses locais teria sido responsável por casos da doença em consumidores que não limparam as
latas adequadamente.
Especialistas dizem que lavar as
latas é uma medida higiênica, mas
praticamente descartam a possibilidade de transmissão de leptospirose dessa forma.
Segundo o médico Anthony
Wong, diretor do Ceatox (Centro
de Assistência Toxicológica, do
Hospital das Clínicas de São Paulo), as substâncias encontradas
em embalagens "são um problema sério em medicina ocupacional e ambiental, pois acometem
mais os trabalhadores de indústrias de plástico e a comunidade
ao seu redor; nos alimentos, o risco existe, mas é menor".
Entre as substâncias de toxicidade comprovada que são componentes de embalagens e recipientes, algumas recebem mais
atenção dos pesquisadores porque em certas condições podem
"migrar" para os alimentos.
Existe uma concentração máxima dessas substâncias, determinada pela legislação brasileira e
baseada nos critérios da FDA
(Food and Drug Administration,
agência norte-americana que
controla remédios e alimentos),
da União Européia e em pesquisas de laboratórios nacionais.
Quando esse limite não é ultrapassado, não há prejuízo à saúde
do consumidor.
Os sais de chumbo e de cádmio,
de travessas e jarras vitrificadas,
são um exemplo. Eles provocam
intoxicação aguda, quando ingeridos em excesso, ou sequelas a
longo prazo, pois têm efeito cumulativo, ou seja, não são eliminados completamente pelo organismo e se depositam em órgãos e
tecidos.
Os problemas agudos causados
pelo chumbo são cólica abdominal, anemia e sintomas neurológicos, que variam de uma simples
sonolência com dificuldade de
concentração, tontura e dor de
cabeça até convulsões e coma.
Após exposição prolongada, o
chumbo pode causar insuficiência renal.
O cádmio, quando ingerido em
grande quantidade, provoca náuseas, vômitos, cólica abdominal e
dores musculares. Com o decorrer do tempo, também pode causar lesão renal. Quando inalado, o
cádmio induz o desenvolvimento
de câncer no pulmão.
"No Brasil, a principal fonte de
contaminação de chumbo são os
alimentos", adverte Wong. Em
outros países que ainda não proibiram a adição de chumbo tetraetila à gasolina, como o Chile e o
México, a poluição ambiental é a
principal fonte de contaminação.
Outra classe de substâncias que
preocupa os pesquisadores são os
polímeros de plásticos. Durante a
produção desses polímeros, os
monômeros (moléculas menores
que sofrem reações químicas para
se unirem) podem permanecer
misturados ao produto final.
Há monômeros (cloreto de vinila, estireno e acrilonitrila) considerados indutores de câncer.
A acrilonitrila, encontrada em
celofane e acrílico, causou má-formação em embriões de animais de laboratório e induziu
câncer em ratos quando ingerida.
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