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VIVENDO PERIGOSAMENTE
Pesquisa Datafolha indica descrença na capacidade de atuação preventiva da polícia
Sensação da violência supera dados reais
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
especial para a Folha
Moradores de uma das metrópoles mais violentas do mundo,
os paulistanos têm uma percepção da violência ainda maior do
que ela realmente é.
A consequência -ou a causa-
é uma descrença cada vez maior
na capacidade da polícia de prevenir os crimes e de identificar e
prender os culpados.
É o que mostra pesquisa Datafolha, feita em dezembro do ano
passado, sobre as condições de segurança entre os habitantes de
São Paulo. O levantamento foi feito junto com a pesquisa de qualidade de vida na cidade.
Os números mostram que, apesar de o percentual de pessoas assaltadas ou roubadas na cidade
ter ficado estável nos últimos meses, 79% dos entrevistados achavam que esses crimes haviam aumentado em novembro passado.
Só 18% opinaram que o número
de furtos, roubos ou agressões
continuou igual.
Desde abril de 1999, o percentual de paulistanos de 16 anos ou
mais (o universo da pesquisa) que
dizem ter sido vítima de assalto,
roubo ou agressão na cidade oscila entre 6% e 9%.
Começou com 8%, foi a 9% em
junho, oscilou para 6% em agosto
e 7% em outubro, chegou a 8% na
pesquisa de dezembro. Todas as
variações estão dentro da margem de erro da pesquisa, de dois
pontos percentuais para mais ou
para menos.
500 mil vítimas
O percentual é, sem dúvida, alto: projetando-se essas taxas sobre a população, o número absoluto de vítimas mensais desses
crimes estaria próximo de 500 mil
pessoas. Porém a tendência é de
estabilidade.
O clima de insegurança é tão
grande que nada menos do que
81% da população acredita que
tem grande chance de vir a ser assaltada na cidade. Outros 13%
acham que a chance de assalto é
média.
Uma hipótese para explicar a
percepção da maioria absoluta
dos paulistanos de que estão vivendo em uma cidade cada vez
mais violenta é o crescimento dos
assassinatos.
Recorde
Em 1999 a cidade bateu seu recorde, ultrapassando 5.700 homicídios no ano. Foram quase 500
mortes mais do que em 1998, ano
que já registrava o recorde histórico e quando, pela primeira vez,
São Paulo teve que conviver com
mais de 5.000 assassinatos.
Para piorar, a tendência é de
que esse número continue crescendo. O segundo semestre de
1999 registrou um crescimento de
6% em relação aos primeiros seis
meses do ano.
A população percebeu essa tendência: 83% dos paulistanos disseram, em dezembro, que os homicídios haviam aumentado no
mês anterior.
Insegura com as notícias de cada vez mais assassinatos, é possível que, por analogia, a maioria
tenha concluído que os chamados
crimes contra o patrimônio também haviam aumentado.
Tendência
Ao mesmo tempo, a pesquisa
mostra que há uma tendência
contínua de deterioração da imagem da Polícia Militar.
No final de 1995, apesar de o número de homicídios ter batido o
recorde anual da época, 63% dos
paulistanos acreditavam que a
PM era um pouco eficiente na
prevenção dos crimes, contra
22% que achavam que ela era nada eficiente nessa tarefa.
Em abril de 1997, logo após o escândalo envolvendo policiais militares na morte e espancamento
de pessoas na favela Naval (Diadema, Grande São Paulo), a confiança na polícia já diminuíra:
36% diziam que a PM é ineficiente, mas 53% ainda acreditavam
parcialmente nos policiais.
Em dezembro de 1999, esses
percentuais ficaram tecnicamente
empatados: 43% a 46%, respectivamente. Só não se pode dizer
que a maioria da população da cidade descrê totalmente da PM
porque ainda há 7% de paulistanos que acham que a Polícia Militar é muito eficiente na prevenção
aos crimes.
O episódio da favela Naval ainda deixou cicatrizes na imagem
da PM. Logo após os crimes, 73%
dos paulistanos afirmavam que a
polícia era mais violenta do que
deveria, contra 44% em dezembro de 1995.
Passados quase três anos, a taxa
caiu a 49%, mas ficou em um patamar superior ao que estava antes do episódio. Ainda pior, 66%
dos paulistanos dizem ter mais
medo do que confiança na PM
-contra 51% em 1995.
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