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Leonardo, 18, não tem mais sonhos
da Sucursal do Rio
Leonardo Silva de Souza,
18, abandonou a escola na
quinta série. Queria ser jogador de futebol. Treinava numa escolinha do morro do
Urubu, em Pilares (zona
norte). O treinador sumiu, e
o sonho do futebol se foi.
Leo pensou então no Exército. Ganharia uma farda,
uma arma e um salário para
ajudar a mãe, faxineira. Alistou-se e foi recusado por excesso de contingente.
Os traficantes do morro já
o convidaram para entrar
"no movimento". Não quis.
"A gente só faz é morrer."
Já foi detido pela polícia,
acusado de traficar drogas.
Uma conhecida do morro o
salvou.
Conseguiu um emprego
para carregar entulho de
uma obra da Prefeitura do
Rio na urbanização do morro. Nem fez ainda a conta de
quanto ganha. Quando sai
da obra, solta pipa na rua.
"Agora não tenho mais sonho de nada, já estou velho.
Já consegui esse trabalho de
carregar entulho, então quero só ficar soltando pipa."
Leo nunca foi ao cinema,
nunca leu um livro, nunca
fez curso algum. Não lembra
em quem votou para governador, só para deputado estadual. Para presidente, votou em Enéas (Prona), para
acompanhar a mãe.
Não consegue pensar no
que quer para o futuro. Para
não ser fotografado pela Folha, fugiu e embrenhou-se
pelas vielas do morro. "Não
tenho mais sonho de nada,
já disse, estou velho."
(FE)
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