|
Próximo Texto | Índice
SP ILEGAL
Escavação de garagem foi feita em área pública e escondida por parede de gesso; local foi fiscalizado em dezembro passado
Fiscal não vê obra irregular de 4.300 m2
SÍLVIA CORRÊA
SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma das maiores incorporadoras de São Paulo escavou irregularmente -sob um terreno público- quatro pavimentos de garagem de 1.075 m2 cada um no
meio da Vila Olímpia -um dos
metros quadrados mais caros da
cidade- sem que ninguém tenha
feito nada para impedir a obra.
Pior: por ordem da CPI da Operação Urbana Faria Lima, a fiscalização da Subprefeitura de Pinheiros esteve no local na terceira
semana de dezembro, mas o chefe
do setor na subprefeitura diz que
o buraco de quatro pavimentos e
4.300 m2 -o equivalente a 16,4
quadras de tênis- não foi visto.
O prédio em questão, na rua
Funchal, foi batizado de e-Tower
-um empreendimento de R$ 70
milhões. Será o terceiro edifício
mais alto de São Paulo -38 andares em 144 metros de altura, com
30% do total já executado.
O chefe da fiscalização da Subprefeitura de Pinheiros, engenheiro Maurício Monteiro, justifica a falha de vistoria do prédio citando a existência de uma parede
de gesso chapiscada de cimento,
atrás da qual a incorporadora escondeu a garagem irregular. A parede simula que a obra termina no
perímetro aprovado pela Prefeitura de São Paulo -antes de invadir o subsolo público.
A versão do engenheiro -de
que a parede impediu a visão do
buraco ilegal- é corroborada pela incorporadora da obra e autora
da irregularidade, a Munir Abbud
Empreendimentos Imobiliários,
empresa que está no mercado há
30 anos e já construiu 2.000 unidades de alto padrão, entre elas o
hotel Paulista Wall Street.
A empreiteira, no entanto, não
forneceu à reportagem a data exata de construção da parede de gesso, afirmando apenas que ela
ocorreu "há seis ou sete meses". A
prefeitura, por sua vez, recusou-se a dizer em que dia foi feita a fiscalização que não notou a irregularidade. Por fim, a Arte Final,
empresa que fez a divisória camuflada, diz apenas que prestou o
serviço "recentemente" para dar
"um socorro" à Tecnum Corporate -construtora contratada para a obra pela Munir Abbud.
O buraco, admite a própria
construtora, começou a ser feito
em meados de 2001, no início da
obra. Mas a irregularidade só começou a vir à tona na última sexta, quando a Subprefeitura de Pinheiros e a Folha receberam a denúncia do caso, feita pela ex-mulher de um dos empreiteiros.
Na segunda, o jornal procurou a
subprefeitura, que apenas na terça visitou a obra. A vistoria foi feita por Maurício Monteiro, que foi
administrador regional do Jabaquara na gestão de Paulo Maluf
(1993-96) e de Pinheiros na gestão
Celso Pitta (1997-2000).
Homem forte dos últimos oito
anos de governo, ele continua comandando a fiscalização de Pinheiros -unidade na qual trabalhava Marco Antonio Zeppini, o
então chefe da fiscalização que foi
preso em 1998 no episódio que
deu origem ao esquema de corrupção que ficou conhecido como
"máfia da propina".
Na vistoria feita após a denúncia, Monteiro diz ter determinado
que fosse feito um buraco na parede de gesso. Encontrou atrás
dela a enorme câmara até então
escondida. A Folha não teve acesso ao subsolo da obra.
O engenheiro não achou no local o projeto aprovado que permitia a escavação -até porque a incorporadora não o possui- e deu
48 horas para que a empreiteira o
apresentasse à subprefeitura.
No Código de Obras não há nenhuma previsão legal para que a
empresa tenha esse prazo. A legislação determina que, constatada a
irregularidade pela execução da
obra ou pela falta de documentos
que a justifique, o poder público
deve autuar o construtor, intimá-lo a apresentar a documentação
necessária e, até que isso ocorra,
embargar a obra. À Folha, porém,
Monteiro disse que dar o prazo é
uma orientação da prefeitura.
Ontem, dia seguinte à fiscalização, a Munir Abbud protocolou
um projeto modificativo na Secretaria Municipal da Habitação.
Ele prevê a escavação do subsolo
público -que não tem suporte
legal. A Subprefeitura de Pinheiros deve embargar hoje as obras, e
a incorporadora pode ser obrigada a aterrar o buraco.
A Munir Abbud poderá pagar
multa de cerca de R$ 300 mil pela
obra irregular.
Jefferson Abbud, 43, sócio-diretor da incorporadora, admite a irregularidade, mas alega que a empresa escavou o subsolo público apostando na aprovação de um
projeto de lei que alteraria o traçado da rua Funchal.
O projeto, segundo ele, foi apresentado em 2000 e tramita na Câmara Municipal sob o número 5.694. Não há, no entanto, nenhum projeto com esse número.
Próximo Texto: Empresa diz que quer comprar área invadida Índice
|