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CLIMA
Vendedora passou seus três dias de folga em casa, no Aricanduva, com medo de que uma enchente estragasse móveis
Medo da chuva faz morador ficar em vigília
DA REPORTAGEM LOCAL
Domingo, segunda e terça-feira
de folga. Os dias que a vendedora
Kátia Mirva Zeferino, 30, tinha
para passear e se divertir foram
passados dentro de casa. "Sempre
que me chamavam para sair eu
pensava: e se chover e eu não tiver
como voltar?", afirma Zeferino,
que mora no Aricanduva (zona
leste de São Paulo), uma das áreas
mais atingidas pelas enchentes
das últimas semanas.
Na quarta-feira, Zeferino voltou
ao emprego, mas, assim que saiu
do shopping onde trabalha, às
22h, desistiu de ir para casa. Sabia
que, devido à tempestade, seu
bairro estaria intransitável.
O que ela não esperava é que a
enchente fosse tão devastadora. A
água ultrapassou as três comportas que protegem o imóvel, inutilizando quase todos os móveis e
eletrodomésticos.
"Ninguém mais deixa a casa vazia. Se começar a entrar água, tem
que ter alguém para empilhar os
móveis. Por isso, se meu marido
sai, eu fico tomando conta", conta
a dona-de-casa Ivone Pereira, 43,
moradora do mesmo bairro.
Para proteger o carro da família,
a dona-de-casa Shirley Freitas começou a estacioná-lo a algumas
quadras de sua casa, em ruas mais
altas. Foi prudente. Anteontem,
um carro na frente de sua casa foi
coberto até o teto na enchente.
No Tatuapé, os bares do entorno da praça Silvio Romero, que
costumam receber fregueses para
o happy hour, sentiram uma
grande queda no movimento na
última semana. "Todos os anos o
movimento diminui nessa época,
mas da última segunda-feira para
cá houve uma queda muito grande", afirma o proprietário do Tatuapé Club, Silvio Mendes, 47.
"As pessoas que saem do trabalho já vão para casa, nem querem
ir a um bar, por causa do clima",
afirma o barman do Morro Branco, Marcelo Evaristo da Silva, 22.
Resgate
Sentada sobre o teto de sua casa
enquanto esperava que os bombeiros salvassem sua família da
enchente, Luzia Francisca de Pontes, 37, tinha uma preocupação a
mais na tarde de anteontem: acalmar os filhos, aflitos com o vira-lata e o jabuti de estimação que ficaram presos na casa inundada.
Ao tentar, ontem, lembrar como subiram no telhado, como foram salvos, como consolara os
quatro filhos, a dona-de-casa ficava confusa. "Eu só sei que a gente
tremia muito, o helicóptero não
conseguia chegar perto por causa
das antenas e aquele vento dele
era muito frio. Naquela hora eu
nem pensei em móveis, nessas
coisas. Para uma mãe, ver os filhos quase morrerem na água é
um desespero", disse.
(AMARÍLIS LAGE)
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