São Paulo, sexta-feira, 06 de fevereiro de 2004

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CLIMA

Vendedora passou seus três dias de folga em casa, no Aricanduva, com medo de que uma enchente estragasse móveis

Medo da chuva faz morador ficar em vigília

DA REPORTAGEM LOCAL

Domingo, segunda e terça-feira de folga. Os dias que a vendedora Kátia Mirva Zeferino, 30, tinha para passear e se divertir foram passados dentro de casa. "Sempre que me chamavam para sair eu pensava: e se chover e eu não tiver como voltar?", afirma Zeferino, que mora no Aricanduva (zona leste de São Paulo), uma das áreas mais atingidas pelas enchentes das últimas semanas.
Na quarta-feira, Zeferino voltou ao emprego, mas, assim que saiu do shopping onde trabalha, às 22h, desistiu de ir para casa. Sabia que, devido à tempestade, seu bairro estaria intransitável.
O que ela não esperava é que a enchente fosse tão devastadora. A água ultrapassou as três comportas que protegem o imóvel, inutilizando quase todos os móveis e eletrodomésticos.
"Ninguém mais deixa a casa vazia. Se começar a entrar água, tem que ter alguém para empilhar os móveis. Por isso, se meu marido sai, eu fico tomando conta", conta a dona-de-casa Ivone Pereira, 43, moradora do mesmo bairro.
Para proteger o carro da família, a dona-de-casa Shirley Freitas começou a estacioná-lo a algumas quadras de sua casa, em ruas mais altas. Foi prudente. Anteontem, um carro na frente de sua casa foi coberto até o teto na enchente.
No Tatuapé, os bares do entorno da praça Silvio Romero, que costumam receber fregueses para o happy hour, sentiram uma grande queda no movimento na última semana. "Todos os anos o movimento diminui nessa época, mas da última segunda-feira para cá houve uma queda muito grande", afirma o proprietário do Tatuapé Club, Silvio Mendes, 47.
"As pessoas que saem do trabalho já vão para casa, nem querem ir a um bar, por causa do clima", afirma o barman do Morro Branco, Marcelo Evaristo da Silva, 22.

Resgate
Sentada sobre o teto de sua casa enquanto esperava que os bombeiros salvassem sua família da enchente, Luzia Francisca de Pontes, 37, tinha uma preocupação a mais na tarde de anteontem: acalmar os filhos, aflitos com o vira-lata e o jabuti de estimação que ficaram presos na casa inundada.
Ao tentar, ontem, lembrar como subiram no telhado, como foram salvos, como consolara os quatro filhos, a dona-de-casa ficava confusa. "Eu só sei que a gente tremia muito, o helicóptero não conseguia chegar perto por causa das antenas e aquele vento dele era muito frio. Naquela hora eu nem pensei em móveis, nessas coisas. Para uma mãe, ver os filhos quase morrerem na água é um desespero", disse.
(AMARÍLIS LAGE)


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