São Paulo, sexta-feira, 06 de fevereiro de 2004

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VIOLÊNCIA

Armado, jovem de 17 anos assassinou garoto na rua e estudante em escola de informática na cidade de Remanso

Na Bahia, adolescente mata dois, fere dois e se declara terrorista

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Armado com um revólver 38, um estudante de 17 anos provocou pânico na cidade de Remanso (700 km de Salvador) anteontem à noite. Ele é acusado de matar duas pessoas e ferir outras duas.
Preso em flagrante, o estudante disse, em depoimento, que é simpatizante de terroristas islâmicos -chegou a citar Osama bin Laden em seu depoimento- e que sua intenção era matar "pelo menos cem pessoas".
O ataque de fúria do estudante começou às 19h. Ele pagou R$ 2 para um motoboy o levar ao centro da cidade, que tem, segundo dados do Censo 2000, cerca de 36 mil habitantes e é uma das mais afetadas pelas chuvas que atingem a Bahia há quase um mês.
No centro, atirou na primeira pessoa que viu pela frente, o também estudante Farlley Bastos Almeida, 13. Atingido no peito e na cabeça, Almeida morreu na hora.
Em seguida, com a arma apontada para a cabeça do motoboy, o estudante exigiu que ele o levasse até a única escola de informática do município.
Às 19h30, com a arma escondida sob uma camisa folgada, ele subiu os 18 degraus que dão acesso à escola e começou a atirar. Àquela hora, 23 pessoas estavam dentro da escola.
Atingida no peito, Ana Paula Feitosa de Almeida, 23, aluna da escola, morreu na hora. Outras duas pessoas foram feridas com gravidade -a funcionária da unidade Francisca Alves Rodrigues, 40, e a aluna Maria Dulce Ribeiro Silva, 28. Até ontem à tarde, as duas continuavam internadas.
Temendo ser atingida, a estudante Mayanne Santos, 24, pulou de uma janela, a uma altura de três metros. Na queda, sofreu fratura exposta na perna.

Prisão
Depois de descarregar o revólver dentro da escola de informática -três computadores e duas impressoras também foram destruídos-, o rapaz foi dominado por dois alunos.
Às 20h10, avisados pelo motoboy que transportou o adolescente até a escola de informática, cinco policiais chegaram ao local e o prenderam.
Depois de passar a noite isolado em uma cela, o estudante apresentou ao delegado Reginaldo César Cabral de Lima, 30, uma carta. "No texto, ele se considera um terrorista brasileiro, disposto a matar muita gente para ficar na história", disse o delegado.
De acordo com o delegado, o estudante também afirmou que estava disposto a se matar, após cometer os crimes.
Em seu depoimento à PM, o estudante se apresentou como uma "pessoa isolada". "Não tenho nenhum arrependimento do que fiz", disse à polícia o estudante, que está matriculado no 3º ano do ensino médio em uma escola pública da cidade.

Advogada
Ontem à tarde, a advogada Maria Teresa Figueiredo, 40, responsável pela defesa do acusado, não quis comentar o caso. "Antes de falar qualquer coisa, quero analisar o depoimento e conversar com o meu cliente."
O delegado Lima disse que o estudante vai continuar detido em uma cela individual. Por ser menor, deve responder a processo com base no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), que prevê punição máxima de três anos de internamento.
Segundo Lima, o inquérito deverá ser concluído até o final da próxima semana. "Depois, o estudante já estará à disposição do Ministério Público."
De acordo com a polícia, até matar duas pessoas e ferir outras duas, o estudante tinha um comportamento considerado normal. "Ele sempre foi muito introvertido, só isso", disse o delegado.


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