São Paulo, sexta-feira, 06 de fevereiro de 2004

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RIO

O estudante estava na prisão, em Cabo Frio, havia seis dias

Laudo indica que lesão ocorreu até 24 horas antes da morte de jovem

TALITA FIGUEIREDO
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

O universitário Rômulo Batista de Melo morreu em conseqüência de traumatismo craniano e hemorragia cerebral provocados até 24 horas antes de sua morte. A informação está no laudo do IML divulgado ontem. O rapaz apresentava ainda uma lesão no lado direito no rosto.
Nas 24 horas que antecederam a morte de Melo, ele esteve na 126ª DP (Delegacia de Polícia), em Cabo Frio (a 154 km da capital), e no carro da delegacia que o levaria a um hospital psiquiátrico no Rio.
Como o estudante passou mal na viagem, segundo os policiais da escolta, o carro parou no Hospital Modesto Leal, no município de Maricá (a 60 km do Rio). O hospital registra a chegada do preso às 15h11, desacordado. Ele morreu às 17h40. Tinha 21 anos.
De acordo com o coordenador da Polícia Técnica da Secretaria de Segurança Pública do Estado, Roger Ancilotti, o laudo descarta a hipótese, apresentada por policiais da 126ª DP, de que a vítima teria se ferido ao ser presa, seis dias antes da morte.
Os policiais disseram que Melo, muito agitado, reagira à prisão. O laudo indica que ele tinha escoriações nas costas e nos tornozelos provavelmente provocadas no momento em que foi preso.
"Não foram essas escoriações que provocaram a morte dele. A lesão fatal era bem recente", afirmou o coordenador.
Segundo Ancilotti, não há como saber qual a "ação contundente" que resultou na lesão cerebral. O rapaz pode ter batido a cabeça na "parede, em uma grade ou apanhado com um porrete".
A polícia informou que foram encontradas manchas no carro que conduziu o estudante. O carro será periciado para saber se as manchas são de sangue.

Autolesão
O corregedor-geral das polícias, delegado José Vercilo, afirmou que o chefe da carceragem da 126ª DP disse, em depoimento, que em momento algum o universitário se feriu sozinho dentro da cela. Segundo Vercilo, o carcereiro contou que Melo permaneceu calmo o tempo todo.
O depoimento do carcereiro contraria o que disseram os outros policiais da equipe do delegado José Omena, que foi afastado. Eles sustentam a versão de que o universitário se autolesionou. O nome do chefe da carceragem não foi divulgado pelo corregedor.
A suspeita de que o estudante não se feriu sozinho já tinha sido reforçada anteontem, quando 15 presos de Cabo Frio disseram a representantes da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa não terem visto uma situação desse tipo.
Integrantes da comissão do governo federal que investiga casos de violência policial no Rio se reuniram ontem com os pais de Melo. Após o encontro, o chefe da Ouvidoria da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Pedro Montenegro, disse que poderá pedir a transferência da investigação para a Polícia Federal caso considere faltar transparência à apuração do caso, feita pela Corregedoria da Polícia Civil.
"A tragédia que cerca a morte desse jovem se assemelha a um filme de horror", declarou.


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