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São Paulo, quinta-feira, 06 de março de 2003

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CAOS NO RIO

Porta-voz das Forças Armadas contradiz versão de PMs sobre morte de professor que furou barreira anteontem

Militar vê dificuldade em agir como polícia

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Local em que o professor de inglês Frederico Branco de Faria foi morto durante blitz


CHICO SANTOS
FERNANDA DA ESCÓSSIA

DA SUCURSAL DO RIO

O Comando Militar do Leste afirmou ontem que as tropas do Exército não são treinadas para atuar como polícia e que, se os militares forem indagados sobre isso, é "muito provável" que respondam que não querem trabalhar na segurança pública.
"Dentro da nossa expectativa, [o patrulhamento do Rio no Carnaval] atingiu o objetivo. Não podemos esquecer nunca que a missão precípua, o treinamento principal do Exército, não é [para] ser polícia", afirmou o coronel Ivan Cosme, porta-voz do Comando Militar do Leste.
"Se perguntar à maioria dos militares, é muito provável que eles não sejam favoráveis a atuar como polícia. Agora, cumprimos qualquer missão que vier."
Cosme fez a afirmação ao ser questionado sobre a morte do professor de inglês Frederico Branco de Faria, 55, anteontem de madrugada, ao não parar em uma barreira do Exército em Tomás Coelho (zona norte). O professor foi a primeira vítima fatal das Forças Armadas na Operação Guanabara, montada para tentar conter a onda de violência no Rio.
Mesmo sem comentar em detalhes a morte do professor, Cosme disse que os militares não haviam trocado tiros com traficantes na barreira montada nas proximidades do morro do Juramento (zona norte), na qual Faria foi atingido.
Foram policiais militares, que participavam de uma blitz em apoio à ação do Exército, que divulgaram a versão sobre o tiroteio, como registrado na 44ª Delegacia de Polícia.
Segundo o coronel, o episódio será investigado pelo Inquérito Policial Militar instaurado. Ele disse ainda que o episódio foi "lamentável" e que, ""em primeira análise, tudo foi uma fatalidade".
Segundo o coronel, as Forças Armadas atuaram no Carnaval com 3.000 homens nas ruas, tendo sido montadas operações em 38 pontos. Cosme informou que, enquanto não houver nova definição do governo federal sobre o prazo, a Operação Guanabara será mantida, com efetivo menor.
O depoimento de um morador da área onde Frederico Faria foi morto reforça a versão do Exército, segundo a qual não houve tiroteio com traficantes.
O morador de Tomás Coelho, que não quis ser identificado, disse que não ouviu tiros em nenhum momento antes da morte do professor. Ele confirmou que os militares estavam com o rosto coberto. Segundo ele, a rua é usada para deslocamento de traficantes durante a madrugada.
Faria morreu com um tiro que atingiu o seu tórax e vários órgãos. O disparo foi dado por um militar do Exército, quando o professor teria se recusado a parar na barreira e acelerado o carro contra um oficial que tentava impedi-lo de prosseguir.

Balanço
A presença das Forças Armadas nas ruas do Rio durante os dias de Carnaval não diminuiu a quantidade de homicídios dolosos (propositais) nem aumentou as prisões em flagrante. O número de homicídios dolosos -90 em todo o Estado- foi o mais alto dos últimos quatro anos. Em 2002, ocorreram 77 assassinatos. O aumento foi de 16,88% neste ano.


Colaborou SÉRGIO RANGEL, da Sucursal do Rio


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