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CAOS NO RIO
Porta-voz das Forças Armadas contradiz versão de PMs sobre morte de professor que furou barreira anteontem
Militar vê dificuldade em agir como polícia
Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
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Local em que o professor de inglês
Frederico Branco de Faria foi morto durante blitz |
CHICO SANTOS
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
O Comando Militar do Leste
afirmou ontem que as tropas do
Exército não são treinadas para
atuar como polícia e que, se os militares forem indagados sobre isso, é "muito provável" que respondam que não querem trabalhar na segurança pública.
"Dentro da nossa expectativa,
[o patrulhamento do Rio no Carnaval] atingiu o objetivo. Não podemos esquecer nunca que a missão precípua, o treinamento principal do Exército, não é [para] ser polícia", afirmou o coronel Ivan
Cosme, porta-voz do Comando
Militar do Leste.
"Se perguntar à maioria dos militares, é muito provável que eles
não sejam favoráveis a atuar como polícia. Agora, cumprimos
qualquer missão que vier."
Cosme fez a afirmação ao ser
questionado sobre a morte do
professor de inglês Frederico
Branco de Faria, 55, anteontem de
madrugada, ao não parar em uma
barreira do Exército em Tomás
Coelho (zona norte). O professor
foi a primeira vítima fatal das Forças Armadas na Operação Guanabara, montada para tentar conter a onda de violência no Rio.
Mesmo sem comentar em detalhes a morte do professor, Cosme
disse que os militares não haviam
trocado tiros com traficantes na
barreira montada nas proximidades do morro do Juramento (zona
norte), na qual Faria foi atingido.
Foram policiais militares, que
participavam de uma blitz em
apoio à ação do Exército, que divulgaram a versão sobre o tiroteio, como registrado na 44ª Delegacia de Polícia.
Segundo o coronel, o episódio
será investigado pelo Inquérito
Policial Militar instaurado. Ele
disse ainda que o episódio foi "lamentável" e que, ""em primeira
análise, tudo foi uma fatalidade".
Segundo o coronel, as Forças
Armadas atuaram no Carnaval
com 3.000 homens nas ruas, tendo sido montadas operações em
38 pontos. Cosme informou que,
enquanto não houver nova definição do governo federal sobre o
prazo, a Operação Guanabara será mantida, com efetivo menor.
O depoimento de um morador
da área onde Frederico Faria foi
morto reforça a versão do Exército, segundo a qual não houve tiroteio com traficantes.
O morador de Tomás Coelho,
que não quis ser identificado, disse que não ouviu tiros em nenhum momento antes da morte
do professor. Ele confirmou que
os militares estavam com o rosto
coberto. Segundo ele, a rua é usada para deslocamento de traficantes durante a madrugada.
Faria morreu com um tiro que
atingiu o seu tórax e vários órgãos. O disparo foi dado por um
militar do Exército, quando o
professor teria se recusado a parar
na barreira e acelerado o carro
contra um oficial que tentava impedi-lo de prosseguir.
Balanço
A presença das Forças Armadas
nas ruas do Rio durante os dias de
Carnaval não diminuiu a quantidade de homicídios dolosos (propositais) nem aumentou as prisões em flagrante. O número de
homicídios dolosos -90 em todo
o Estado- foi o mais alto dos últimos quatro anos. Em 2002,
ocorreram 77 assassinatos. O aumento foi de 16,88% neste ano.
Colaborou SÉRGIO RANGEL, da Sucursal do Rio
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