AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Quase 40 mil novos casos de câncer de mama surgem no Brasil a cada ano, com 7.500 mortes. Embora seja o tipo de câncer que mais afeta e assusta as mulheres, é também o que pode ser detectado pela própria paciente, com um simples e cuidadoso auto-exame da mama.
André Márcio Murad, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica e chefe do serviço de oncologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, defende que todas as mulheres, ao passarem pelo médico ou posto de saúde, sejam ensinadas a fazer o auto-exame. Os médicos, por sua vez, não importa a especialidade, "devem fazer o exame da mama, assim como medem os batimentos cardíacos e a pressão arterial".
"Num país pobre, onde não há mamógrafos suficientes, o exame da mama pelo médico o e o auto-exame são fundamentais", diz Murad. Ele cita um estudo canadense que comparou mulheres que faziam o auto-exame, o exame médico e fizeram mamografias com mulheres que realizaram apenas o auto-exame e o exame médico. A mortalidade entre os dois grupos foi semelhante.
Leia trechos da entrevista:

Folha - Só o auto-exame seria capaz de reduzir a mortalidade?
André Murad - O auto-exame é fundamental, mas precisa ser ensinado e bem-feito. Uma pesquisa em Belo Horizonte mostrou que 70% das mulheres que disseram conhecer o exame não sabiam fazê-lo corretamente. Caberia ao governo e às sociedades médicas um grande esforço para orientar corretamente as mulheres e motivar os médicos a ensiná-las.

Folha - Quem deve fazer a mamografia anualmente?
Murad- Para a Sociedade Americana de Câncer, todas as mulheres acima dos 40 anos. Para o Instituto Nacional de Saúde (órgão do governo americano), todas acima dos 50. Considerando que o Brasil não tem mamógrafos suficientes, é preciso selecionar: oferecer para as mulheres acima de 50 e para aquelas que têm um histórico de câncer de mama na família. Não há ainda estudos que mostrem redução na mortalidade quando se faz mamografia em massa abaixo dos 50.

Folha - Quais fatores aumentam o risco para o câncer de mama?
Murad- Entre 10% e 15% têm causas genéticas. Outro fator é o excesso de exposição do tecido mamário ao estrogênio. Nesse grupo estão aquelas que tiveram a menarca [primeira menstruação" muito precoce e uma menopausa tardia, com um período da função ovariana mais longo. Aquelas que tiveram a primeira gravidez tardia ou nunca engravidaram. A reposição hormonal também pode aumentar os riscos. Alimentos como frutas e legumes, assim como atividade física, são fatores de proteção. Assim como a obesidade é um fator de risco.


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