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São Paulo, domingo, 06 de abril de 2003

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AMBIENTE

Mesmo após o vazamento que poluiu rios em Minas e no Rio, a Indústria Cataguazes de Papel mantém apoio na cidade

Morador e Ibama são contra fechar empresa

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CATAGUASES

Apesar dos danos causados pelo acidente ambiental na Indústria Cataguazes de Papel, ocorrido há oito dias, moradores e representantes de órgãos governamentais em Cataguases defendem o não-fechamento da empresa.
O principal argumento é o impacto social e econômico que a demissão dos 350 funcionários da empresa causaria à cidade, de cerca de 63 mil habitantes. Ficariam sem renda cerca de 1.400 pessoas que se beneficiam diretamente da empresa e cerca de mil outras que vivem indiretamente dela.
Os funcionários da indústria temem o desemprego por causa de supostas punições à fábrica, como interrupção das atividades ou o fechamento dela por inviabilidade financeira decorrente de uma eventual multa elevada.
Os empregados defendem os patrões, Felix Luis Santana Arencibia e João Gregório do Bem -ambos com prisão decretada pela Justiça Federal-, e acusam os antigos donos da indústria (o grupo Matarazzo) pela acomodado indevida do rejeito tóxico que vazou da barragem, poluindo rios em Minas e no Rio de Janeiro.
José Roberto Castro, 36, condutor de máquinas na empresa desde 1986, não se conformava com a presença da Polícia Federal na indústria, na quinta-feira, para tentar prender os donos da empresa, que estão desaparecidos. "A indústria não produz mais nada tóxico. Isso é injusto."
José do Carmo da Silva Vitório, 45, trabalha desde os dez anos de idade na empresa, quando ela ainda era Companhia Mineira de Papel. Atualmente ele controla o serviço de carga e descarga. Seu filho Tiago, 20, também trabalha lá há três meses. "Essa fábrica já foi nossa. Vendemos para os atuais donos, mas ainda trabalhamos como se fosse nossa. Se fechar, para onde vamos?"
Quando o grupo Matarazzo fechou a empresa, no final dos anos 80, após uma série de problemas também ambientais, os empregados ganharam a então indústria de celulose na Justiça, como pagamento pelo passivo trabalhista deixado. A fábrica ficou dois anos desativada -de 1992 a 94. Após a batalha na Justiça, os funcionários venderam a empresa para os atuais donos, com deságio de 55% e em 36 parcelas. Cada um recebeu o proporcional ao tempo de trabalho. "Recebi pouco mais de R$ 6 mil", disse Vitório.
Os funcionários tiveram o apoio do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e da Delegacia Regional do Trabalho.
Carlos Calazans, delegado do Trabalho, disse que lutará pela manutenção da fábrica. Segundo ele, desde 1995, a fábrica foi autuada oito vezes -três autuações trabalhistas e cinco por condições de segurança do trabalho.
O chefe do escritório do Ibama em Juiz de Fora, Aurélio Augusto de Souza Filho, é contra o fechamento da fábrica, embora tenha dito que o órgão não abre mão da punição para os donos. "Não identificamos necessidade de embargar a empresa, pois não existe processo contínuo de poluição."
Ele disse que a Cataguazes Papel não é a responsável pelo vazamento, embora a Cataguazes Florestal, que cuida das barragens, tenha os mesmos donos.
Souza Filho disse que o Ibama suspendeu a multa de R$ 50 milhões aplicada em comum acordo com a Polícia Florestal do Rio e que um novo valor será definido após o levantamento completo dos prejuízos.
Os governos federal e estadual já avisaram que não abrem mão da aplicação da lei ambiental, embora estejam pensando nos empregos. Mas como combinar as duas coisas eles ainda não sabem.

Tratamento
A Feema (Fundação Estadual de Engenharia de Meio Ambiente) liberou a captação de água dos rios Pomba e Paraíba do Sul em cinco municípios do noroeste fluminense para tratamento. A Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos) começa hoje a captar a água que abastece Miracema, Santo Antônio de Pádua, Aperibé, Cambuci e São Fidélis. Após ser tratada, a água será analisada pelo laboratório estadual Noel Nutels e, se aprovada, começará a ser distribuída amanhã.
A irrigação, a pesca e a utilização da água dos rios para que animais a bebam continua proibida. (COLABOROU TALITA FIGUEIREDO, DA SUCURSAL DO RIO)


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