UOL


São Paulo, domingo, 06 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lama preta põe em risco terras férteis da região

DA AGÊNCIA FOLHA, EM CATAGUASES

Mesmo vivendo em terras consideradas férteis, os produtores rurais de Cataguases, na maioria pequenos proprietários, nunca imaginaram que um acidente ambiental pudesse pôr em risco o futuro das terras, muitas passadas de pai para filho.
O agricultor Antônio Luís Amorim, 44, que possui um hectare de terra na fazenda familiar Boa Vista, é um desses. As plantações de batata, mandioca, jiló, quiabo, abóbora, feijão e mamão estão todas perdidas, cobertas por uma lama preta e endurecida, resultado do estouro, há oito dias, da barragem com rejeitos tóxicos.
"Isso tudo era para abastecer a casa. Não sou assalariado, o meu ganho é esse. Tenho seis filhos e a mulher", disse Antônio, que completa a renda fazendo trabalhos em terras vizinhas, pelos quais recebe uma diária de R$ 8.
Agora, o agricultor busca sem sucesso informações sobre o futuro do solo da sua propriedade. É o que todos no distrito de Aracati querem saber. Dependendo da toxicidade da mistura preta que atingiu as terras, o solo poderá ficar contaminado por um bom tempo, dizem os técnicos.
Mas isso ainda é uma suposição. Somente exames detalhados no solo poderão indicar se estão com as terras comprometidas os cerca de 40 produtores rurais que estão na boca da grota, por onde os milhões de litros do chamado licor preto desceram, às margens do ribeirão do Cágado.
Nem todos os produtores rurais de Cataguases têm a calma de Antônio. Alguns falam do acidente com indignação e cobram os seus prejuízos. Na noite de quinta-feira, na Câmara Municipal de Cataguases, durante uma audiência pública para debater o acidente e os seus efeitos, outro Antônio demonstrou toda a sua revolta.
Representando vários pequenos agricultores que vivem às margens do Cágado e do rio Pomba, para onde toda a mistura tóxica escorreu, Antônio Pereira Pina, 73, o "seu" Tufi, disse: "Todos nós somos sofredores, perdemos as capineiras, os pastos, os arrozais. Nós somos as maiores vítimas".


Texto Anterior: Ambiente: Morador e Ibama são contra fechar empresa
Próximo Texto: Altino, 35, não sabe o que fazer
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.