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São Paulo, domingo, 06 de abril de 2003

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Moradores temem novo vazamento

DO ENVIADO ESPECIAL

Com medo de o lençol freático estar contaminado pelos resíduos industriais da Ingá Mercantil, os moradores da ilha da Madeira evitam furar poços artesianos. Eles são obrigados a comprar água de caminhões-pipa quando o fornecimento é interrompido.
Outra problema enfrentado pela comunidade é a desvalorização dos imóveis. Em uma área à beira-mar, que deveria ser valorizada, uma casa de três quartos pode custar menos de R$ 15 mil.
O militar reformado Carlos Reis, 58, conta que já pensou várias vezes em deixar a localidade, mas não consegue comprador para sua casa. Ele mora a cerca de 300 metros da entrada principal da fábrica desativada.
Reis afirmou que vive atemorizado. "Todo mundo aqui tem medo, mas vamos fazer o quê? É um perigo. Uma vez, o lago vazou. Matou todo o mangue. O veneno foi para o mar. Um desastre ecológico horrível", disse ele.

Desaparecimento
Radicado na região desde criança, o jardineiro Reginaldo da Conceição, 30, conta que, por causa da contaminação por metais pesados, não há mais quase caranguejos no mangue.
"As famílias que viviam da pesca do caranguejo tiveram que arrumar outra ocupação", disse ele.
Além dos caranguejos, desapareceram do mangue e das proximidades várias espécies de peixe. As ostras, antes abundantes, também rarearam.
O marceneiro Paulo Cid, 58, tinha na extração das ostras uma fonte de renda adicional. Hoje, para conseguir um dinheiro extra, vende refrigerantes e frutas no cais da ilha da Madeira.
"A pesca foi muito afetada por aqui. O pescador, que antes tinha fartura perto, tem que ir longe para encontrar peixe bom", afirmou o morador.
A balconista Neiva da Silva, 35, mora a 500 m da fábrica. Ela conta que, toda vez que chove, reza para que a barragem não estoure.
"Se a água vazar, vou ter que ir embora daqui. O problema é que não tenho para onde ir. Não quero virar favelada no Rio", disse Neiva da Silva.


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