São Paulo, quinta-feira, 06 de abril de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE

Paciente ingeriu produto que havia ficado um dia sobre a mesa, em Atibaia; rotisseria foi fechada

Torta de frango provocou botulismo em SP

DA REPORTAGEM LOCAL

O Estado de São Paulo registrou pela primeira vez, em Atibaia (60 km da capital), um caso de botulismo transmitido por torta de frango com requeijão. Laudos apontaram a presença da toxina no recheio e no paciente, que se recuperou. O botulismo é uma doença que deixa graves seqüelas neurológicas e pode levar à morte.
Desde 1999, quando passou a ser obrigatório notificar a doença, São Paulo teve oito registros de botulismo, com uma morte.
A doença, normalmente, é ligada a conservas caseiras -de vegetais e de carnes- e ao palmito fabricado de forma clandestina. Porém, a toxina que provoca o botulismo pode se desenvolver em tortas assadas, empadas e empadões feitos com recheios de carne, frango, queijos e vegetais.
A torta -fabricada por uma rotisseria- havia sido comprada no dia 27 de janeiro em um supermercado. O laudo do Instituto Adolfo Lutz que apontou a toxina em restos da torta, colhidos na casa da família, ficou pronto apenas em 17 de fevereiro.
Em nenhum dos dois locais havia amostras nem sobras do alimento. Os dois estabelecimentos foram autuados -a rotisseria foi fechada em definitivo.
Em razão das más condições de funcionamento da rotisseria, 575 kg de alimentos foram inutilizados. O local sofreu nove autos de infração. Havia até mesmo ingredientes com validade vencida.
Os técnicos do Centro de Vigilância Epidemiológica não conseguiram apurar em que momento nem em que local -casa do paciente, rotisseria ou supermercado- ocorreu a contaminação.
A maior possibilidade é que a bactéria estivesse na torta já na rotisseria e tenha resistido mesmo após o produto ser assado -ela suporta até cerca de 120C.
A doença foi descoberta em 2 de fevereiro pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, onde a pessoa foi internada.

Sem fala
O paciente V.G.P.O., 21, apresentou os primeiros sintomas no dia 30 de janeiro. Tinha náusea, vômito e diarréia. Foi ao Hospital Albert Sabin de Atibaia, onde recebeu hidratação e alta médica.
No dia seguinte, o quadro clínico agravou-se, com outros sintomas da doença, como visão turva, boca seca, diarréia, vômito em jato, mal-estar e suor excessivo.
A aplicação do soro contra a doença ocorreu em 2 de fevereiro, mas, 18 dias depois, o doente nem conseguia falar direito. A doença afeta os neurotransmissores e compromete os movimentos.
A família do paciente relatou que a torta ficou horas fora da geladeira. Parentes que também comeram a torta, após aquecer o alimento -o calor neutraliza a toxina-, reclamaram do sabor.
Depois, a torta ficou em cima da mesa. Ao voltar de uma viagem à praia, no dia seguinte, o paciente ingeriu quase todo o produto, provavelmente sem aquecê-lo.
De acordo com Maria Bernardete de Paula Eduardo, coordenadora da Divisão de Hídricas da Secretaria de Estado da Saúde, o aquecimento em forno poderia neutralizar a toxina. "As pessoas acham que podem manter assados fora da geladeira e comê-los sem aquecer. É um erro", diz.
Até ontem, nenhuma nova suspeita da doença que pudesse estar associada ao mesmo alimento havia sido notificada.
O período de incubação do botulismo alimentar pode variar de duas horas a dez dias, com média de 12 a 36 horas após a ingestão do produto contaminado.
Caso a toxina se fixe no tecido nervoso da vítima, o quadro clínico torna-se mais grave.
(JOSÉ ERNESTO CREDENDIO)


Texto Anterior: Quebra-quebra por inclusão: Grupo pró-cotas depreda universidade no ES
Próximo Texto: Epidemia: Países ricos negligenciam Aids, diz ONG
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.