São Paulo, domingo, 06 de maio de 2001

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ÓCIO E VÍCIO
Aumento de homicídios envolvendo jovens acompanha a tendência de crescimento do uso de entorpecentes
Risco com droga é maior entre pobres

Marlene Bergamo/Folha Imagem Garoto anda de skate em pista na avenida Ragueb Chohfi, em Cidade Tiradentes, zona leste de SP DA REPORTAGEM LOCAL

Os jovens das áreas centrais também estão expostos à influência das drogas, mas é o adolescente pobre da periferia que mais se enquadra na lista de maiores riscos, seja consumindo a droga ou sendo usado pelo tráfico.
A constatação é do estudo encomendado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) que, entre outros pontos, analisou o consumo de drogas e a distribuição das opções culturais e esportivas na cidade de São Paulo.
Na periferia, são limitadas as oportunidades de ocupação (há nove vezes mais empregos nas áreas centrais) e os adolescentes estão mais expostos ao crime.
A população mais jovem está concentrada nas áreas extremas da cidade, onde o espaço doméstico tem usos múltiplos.
As casas abrigam parentes e agregam não-parentes, sendo comum várias pessoas morarem em um mesmo cômodo.
"É possível imaginar o grau de tensão e conflito gerado pela falta de privacidade (...): crianças sem um lugar para estudar, jovens sem poder conversar com amigos, ouvir músicas ou namorar, sendo forçados a fazer tudo isso fora de casa e, com frequência, em locais públicos", diz Nancy Cardia, uma das autoras do estudo. Sem opções, os jovens vão para a rua, atuam em bandos.
"Seria de esperar que a maioria dos jovens pobres se tornassem usuários de drogas, mas a vasta maioria não é", diz Nancy.
Na região central, a minoria tem acesso a um número maior de instalações para o lazer, embora deva usar menos essas facilidades, pois geralmente pode se associar a clubes privados e tem menos necessidade de ir a bibliotecas.
"Alguns autores sugerem que essa minoria tende a consumir mais substâncias do que a outra (da periferia), e que, em teoria, apresenta menor risco, porque desfruta de mais vantagens concentradas, vive em ambientes que não mostram sinais de disponibilidade de drogas", diz o estudo.
"O que pode levar o jovem socialmente afluente a usar a droga pode ser diferente daquilo que estimula o pobre. E a consequência do uso de drogas, por experiência ou por hábito, é dramaticamente diferente, o que é confirmado pelas taxas de homicídios."
Nem todos os homicídios, é claro, resultam do uso de drogas, admite a especialista. Mas a tendência de crescimento de homicídios envolvendo jovens acompanha significativamente a tendência do crescimento do uso de drogas. E a maioria das vítimas (homens) tem entre 15 e 24 anos. (FV)



















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