São Paulo, segunda-feira, 06 de maio de 2002

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TRANSPORTE

Demora passa a ser o principal motivo de reclamações dos usuários em SP pela primeira vez em cinco anos

Atraso de ônibus lidera ranking de queixas

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

A demora dos ônibus para passar nos pontos se tornou a principal queixa dos passageiros, disparada, desde a contratação emergencial das viações feita em janeiro pela Prefeitura de São Paulo.
De cada três usuários que, nos primeiros três meses de 2002, registraram reclamações no telefone 158 da SPTrans, ao menos um queria protestar contra os intervalos excessivos dos veículos.
Até 2001, a maioria das queixas, 26,1%, era contra os motoristas que deixavam de parar nos pontos para a entrada de usuários que deram sinal. A média mensal de reclamações contra a demora dos ônibus, que representava 13,6% do total em 1999 e 20,6% no ano passado, atinge agora 33,5%, uma elevação de 34,6%.
Esses dados da SPTrans, órgão da prefeitura responsável pelo transporte coletivo, indicam que, enquanto os empresários reivindicam uma redução da frota para diminuir os custos do sistema, a população cobra a presença de mais ônibus nas ruas. Nos últimos quatro anos, a quantidade de passageiros caiu 26% e a frota em operação teve queda de 15%.
Depois das reclamações por intervalo excessivo (33,5%) e por inobservância ao ponto de parada (18,8%), aparecem na terceira posição do ranking deste ano do serviço 158 as queixas por descumprimento de horário (14,5%), que cresceram 97% em relação a 2000, último ano da administração Celso Pitta.
Segundo Maurício Thesin, diretor operacional da SPTrans, nos dois meses posteriores à contratação emergencial, um consórcio que atua na zona leste, o Aricanduva, deixou de cumprir uma a cada quatro viagens programadas. Hoje, a média é de 90% de cumprimento, índice considerado satisfatório pela prefeitura.
"Esse período de adaptação certamente teve impacto na oferta do transporte e, por isso, a demora dos ônibus aumentou. Houve troca de linhas, transferência de empregados entre as garagens, uma mudança drástica", diz Thesin.
Ele reconhece que a frota patrimonial contratada hoje pela SPTrans, de 10.200 veículos, é a mínima possível para atender à demanda. Em 1996, por exemplo, ela era de 12.059. "A gente está no nível de oferta que é um piso, não dá para baixar mais nada."
A situação é agravada pela idade média dos ônibus em São Paulo. Os contratos emergenciais assinados no início do ano previam que ela deveria ser reduzida de sete anos e seis meses para seis anos, no prazo de 60 dias. A meta não foi atingida, mas as viações não foram multadas. A prefeitura afirma que esse tipo de multa não foi estabelecido oficialmente. No Rio de Janeiro, a idade média da frota beira quatro anos.
O diretor operacional da SPTrans diz que as reclamações do serviço 158 servem para orientar a fiscalização das viações e cita um crescimento nas multas gerais aplicadas em 2002. Até abril, as punições beiraram R$ 2 milhões, quase a mesma quantia do primeiro semestre de 2001.
Essas punições, porém, não assustam as empresas de ônibus -não significam nem 0,5% da arrecadação. O regulamento de infrações da SPTrans prevê multa de R$ 269 cada vez que um ônibus deixar de parar no ponto para pegar um passageiro que deu sinal. Por descumprimento de partida, os valores variam de R$ 54 a R$ 161, dependendo do horário.

Operador
Os novos dados do serviço 158 também mostram que, pela primeira vez nos últimos cinco anos, as reclamações contra as viações ultrapassam as que são feitas contra os motoristas e cobradores.
De 1998 para cá, a média mensal de queixas que se referem às obrigações das empresas -intervalo excessivo, descumprimento de horário, superlotação, limpeza e má conservação do veículo, por exemplo- subiu perto de 52%.
A quantidade de reclamações contra as ações dos motoristas e cobradores- inobservância ao ponto de parada, desrespeito ao público, excesso de velocidade-, porém, teve queda de 55%.
O desempenho dos trabalhadores em 2002 melhorou nos principais itens, resultando em queda na média das contestações. "É uma tendência histórica, até mesmo por causa das ações preventivas de treinamento", diz Thesin.


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