São Paulo, segunda-feira, 06 de maio de 2002

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Para CPI, cidade também integra rede do tráfico

DA REPORTAGEM LOCAL

A cidade de Patos (350 quilômetros de João Pessoa), identificada como ponto de partida da nova rota de prostituição infantil do Nordeste, também faz parte da rota do narcotráfico.
A informação faz parte do relatório preliminar elaborado pela CPI Estadual do Narcotráfico que está em curso na Assembléia Legislativa da Paraíba.
O deputado Luiz Couto (PT), presidente da CPI, diz que a omissão de parte das autoridades locais, especialmente policiais, favorece o crime organizado.
Um exemplo é o caso de Luiz Fernando Costa, o Fernandinho Beira-Mar.
Hoje preso, Beira-Mar, que é considerado um dos maiores traficantes do país, casou-se em Patos no dia 20 de agosto de 1987 com documento de identidade falso. A noiva, Damiana Araújo de Medeiros, é filha de uma escrivã da polícia da Paraíba.
Beira-Mar casou-se com o nome de Felipe Araújo. A noiva, Damiana, tinha apenas 14 anos na época e estava grávida.
A escrivã Espedita dos Santos Araújo, mãe de Damiana, conhecida como "Magda", na época do casamento trabalhava com a delegada Maria Rodrigues, presa sob a acusação de integrar a quadrilha de Beira-Mar na Paraíba.
Espedita assinou um documento oficial da polícia (espécie de certidão negativa) informando que o homem procurado como um dos maiores receptadores de carros roubados na Paraíba, Ricardo Lisboa, era um cidadão sem antecedentes criminais.
Espedita se defendeu na CPI, dizendo que quando assinou o documento ainda não era capaz de entendê-lo. Apenas obedeceu a ordens de Maria Rodrigues.
É que quando Espedita virou escrivã, há 20 anos, era semi-analfabeta. Só havia cursado a primeira série do ensino fundamental.
Após o episódio de Beira-Mar ela foi exonerada, mas conseguiu ser reintegrada recentemente por meio de decisão judicial.
A delegada Maria Rodrigues é acusada pela CPI de ter engavetado mandados de busca e apreensão para que a polícia paraibana prendesse Beira-Mar, em 1988.
De acordo com o presidente da CPI do Narcotráfico, deputado Luiz Couto, Maria Rodrigues informaria a Beira-Mar as atividades da polícia para evitar que ele fosse preso.
No depoimento que Damiana e Espedita prestaram à CPI disseram que o casamento ocorreu em Patos porque os padres de João Pessoa não aceitaram realizar a cerimônia. A noiva era menor de idade e estava grávida. O casamento foi realizado no fórum de Patos sem a presença de nenhum padre. As testemunhas foram a advogada Maria José Lucena de Medeiros e Geraldo Carlos Ferreira, marido dela.
Espedita depôs em dezembro de 2001 e Damiana em março passado. Elas disseram que na época do casamento desconheciam as atividades criminosas de Beira-Mar. As duas também negam que tivessem conhecimento de que os documentos de identidade usados para casar fossem falsos.
Espedita não compareceu ao casamento. Disse na CPI que não gostava do noivo e que era contra a união, só tendo permitido que isso ocorresse em razão da gravidez da filha.
O casamento durou apenas três meses. Espedita disse que depois desse período foi informada pelo superintendente da Polícia Civil de que sua filha estava casada com um dos criminosos mais procurados do país. A escrivã disse ter informado à polícia o paradeiro de Beira-Mar para que ele fosse preso, em 1988.
Nessa época, ele morava em João Pessoa com as duas irmãs, Alessandra e Débora da Costa. Alessandra, acusada de comandar os negócios de Beira-Mar no sertão paraibano, era casada com o policial Luiz Alberto de Melo.
O deputado Luiz Couto, que preside a CPI, diz que Patos, às margens da BR 230, é a principal rota de escoamento da maconha produzida na região. (GA)


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