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AMBIENTE
Em documento enviado à Justiça em fevereiro, estatal alerta para área em que vivem cerca de 450 famílias
Sabesp relatou a juiz risco de morte na favela Paraguai
JOÃO CARLOS SILVA
MARIANA VIVEIROS
SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL
"Elevada concentração de gases
e vapores inflamáveis", "precárias
condições de segurança", "iminente risco de explosão", "iminente risco de morte" e "estado de calamidade". São essas as palavras usadas pela Sabesp para descrever à Justiça a situação de uma área da empresa ocupada pela favela Paraguai (zona leste de SP), onde vivem cerca de 450 famílias.
Os termos constam de recurso impetrado em fevereiro no Tribunal de Justiça de São Paulo em uma ação em que a Sabesp conseguiu decisão favorável a um pedido de reintegração de posse da área ocupada.
Apesar da situação alarmante
descrita, o governo estadual e a
Sabesp só planejam tirar as famílias do lugar em junho, como foi
divulgado ontem, ou em julho, limite máximo para a desocupação, segundo havia dito à Folha o
secretário de Estado da Habitação, Barjas Negri.
A situação da área descrita pela
Sabesp em fevereiro contrasta
com a feita ontem pelo secretário
José Goldemberg (Meio Ambiente) em entrevista coletiva.
"Percebemos que o gás metano
e os compostos voláteis [encontrados no subsolo da área] só aparecem quando cavamos buracos. Estão isolados no subsolo. Por isso, não há risco imediato", disse.
Segundo a Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento
Ambiental), as primeiras medições feitas na área da favela não
acusam a necessidade imediata de esvaziamento porque não foram
detectados contaminantes no ar da área, onde, no ponto crítico de
contaminação, há uma creche que atende 310 crianças.
Ontem, a Sabesp não se pronunciou sobre o assunto pois, em
um acordo, decidiu que somente
o secretário Goldemberg falaria
sobre a área contaminada.
Na ação que propôs para retomar a área, no entanto, a Sabesp, a
dona da área usada no passado
como "lixão" industrial, descreve
a necessidade de tomar medidas
"urgentes". "Configurado, portanto, o estado de calamidade em
que se encontram os agravados
[os moradores] pelo iminente risco de morte a que estão expostos
pela geração de gases e ou vapores
inflamáveis no subsolo de toda a
área ", afirma trecho de petição.
"...impondo-se medidas urgentes no sentido de proteger a vida e
a saúde dos agravados", também
diz a empresa na ação judicial.
A contaminação da área foi revelada pela Folha anteontem. Segundo laudo a que a reportagem
teve acesso, há na área, que tem 94
mil m2, entre 10 e 15 milhões de litros de areia de fundição misturada com borras oleosas.
Na areia de fundição, são encontrados metais pesados, como
chumbo e cobre, além de fenóis
(substâncias orgânicas), que fazem mal à saúde. Nas borras, podem estar compostos orgânicos
voláteis, como hidrocarbonetos e
derivados de benzeno, alguns deles tóxicos e outros cancerígenos.
A contaminação foi descoberta
após ter sido encontrado gás metano no subsolo de um trecho desocupado da área. Com isso, os
estudos foram ampliados e outros
pontos contaminados foram descobertos. Não há, porém, o detalhamento dos produtos químicos
que estão no subsolo. A caracterização, que permite saber exatamente os perigos na área, só ocorrerá depois de sua desocupação.
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