São Paulo, terça-feira, 06 de maio de 2008

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JOSÉ ROBERTO ASTA BUSSAMARA (1942-2008)

Entre corpo e alma, os mortos e os vivos

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Era um mistério na família que José Roberto Bussamara voltasse de uma necropsia no domingo, sentasse seus 100 kg à mesa e comesse tanto e com tanto gosto as carnes que ele mesmo fazia. E assim foi a rotina do diretor do Instituto Médico Legal de Jundiaí, por mais de 20 anos.
Quase, porém, que o legista troca os corpos pelas almas; era moleque corintiano e nadador de enchentes, quando entrou para o seminário. "Queria ser padre." Mas não voltou das férias.
Recém-formado médico urologista, conheceu a mulher no avião, ambos de férias, trocando olhares até Buenos Aires. Foi a tia de Vera passar mal para ele gritar: "Eu sou médico". Ao que ela disse: "Eu também". E começou o "romance médico".
Casados, foram para Jundiaí. Teve três filhas e um neto, e logo fez curso de legista e foi indicado para o IML. "Espiritualizado" e espírita, não se prostrou com o metiê. Via nos corpos que dispunha nas mesas só "carcaças da alma". Mas que geravam "constrangimento" no velório -o que o fez a "abraçar a causa" da tanatopraxia, a técnica que reduz os humores corpóreos.
Mas só esses. Fazia piada "até na sala de necropsia", diz o auxiliar e amigo por 15 anos, que chorou ao preparar seu corpo para o velório. Morreu na sexta, aos 66, de complicações da cirurgia.
"Muito noveleiro", seguira no hospital cada capítulo da novela das seis, que acabou na mesma sexta. Não conseguiu ver o último capítulo.
obituario@folhasp.com.br

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