São Paulo, terça-feira, 06 de maio de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Babá que afirma ter usado Contracep dá à luz em Ribeirão

Isabel de Lima Rodrigues reclama de falta de assistência do laboratório EMS Sigma-Pharma, fabricante do contraceptivo

Felipe nasceu no sábado, um mês antes do previsto, surpreendendo a família, que não tinha berço nem enxoval pronto

JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO

Tudo o que a babá Isabel de Lima Rodrigues, 19, de Ribeirão Preto, queria até novembro do ano passado era cuidar do primo de nove anos e curtir o namoro de oito meses com o funileiro Fernando Santi Logal, 29. No sábado, ela deu à luz Felipe, sem ter carrinho, berço, enxoval ou compensação pelo fato de ter engravidado mesmo tomando contraceptivo.
Isabel é uma das três mulheres que alegam ter ficado grávidas após usar o anticoncepcional injetável Contracep. Disse que, apesar das promessas, não recebeu ajuda do fabricante do contraceptivo, o laboratório EMS Sigma-Pharma, de Hortolândia. A babá está processando a EMS por danos morais. A empresa nega que a mulher tenha engravidado ao usar o remédio.
As outras duas mulheres que afirmam ter engravidado apesar do uso do Contracep moram no Guarujá e em Itapira. A artesã Kátia de Souza Floriano, 29, grávida de sete meses, também reclama da falta de assistência. Edivania Tavares dos Santos, 31, perdeu o bebê.
O Contracep teve sua distribuição, uso e venda suspensos em 8 de novembro pelo Estado. Um dia depois, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) estendeu a proibição a todo o país. Exames do Instituto Adolfo Lutz detectaram, em três lotes, menos hormônio do que o indicado.
A Anvisa liberou o remédio em 22 de fevereiro, mas o Estado ainda mantém a suspensão.

Sem berço
Felipe, o bebê de Isabel, nasceu no HC (Hospital das Clínicas) de Ribeirão pesando 2,620 kg e medindo 45 cm. A gestação durou apenas oito meses, pegando a família de surpresa. "[O laboratório] Prometeram dar um enxoval completo, mas até hoje estamos esperando."
Após a notícia da gravidez, o casal se casou às pressas. Hoje, Isabel mora num quartinho na casa da sogra que não tem berço nem móveis para o bebê. Na gaveta da cômoda, há apenas dez peças de roupas de bebê.
Como Felipe nasceu um mês antes do previsto, Fernando, o pai, precisou ir anteontem a um hipermercado para comprar um carrinho de bebê, horas antes de mãe e filho receberem alta do hospital. "Eu queria pelo menos que o meu filho tivesse um convênio médico", disse Isabel, explicando por que está processando o laboratório.

Abel "EMS"
Com três filhos e o marido desempregado, Kátia disse que, por causa da gravidez inesperada, o casal precisou sair de Adolfo, no interior paulista, para morar de favor na casa de um enteado, que os ajuda com roupas e cesta básica.
Ela alega que representantes do laboratório já lhe fizeram três visitas e que sempre prometem ajudar com os custos do pré-natal, mas ainda nada fizeram. Ela também está processando a EMS.
A irritação a faz pensar em colocar no nome do filho, que se chamará Abel, a participação da EMS. "Eu fiz minha parte de tomar a injeção e meu marido, de pagá-la. Então, o laboratório é meio pai da criança também."


Texto Anterior: José Roberto Asta Bussamara: Entre corpo e alma, os mortos e os vivos
Próximo Texto: EMS diz que propôs auxílio médico a Isabel
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.