São Paulo, sexta-feira, 06 de maio de 2011

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Vereador usou entidade em campanha

Segundo relato de vizinhos, associação que recebeu doação da Defesa Civil paulistana foi palco até de comício

Instituição não tem registro em conselhos sociais; donativos eram sobras de arrecadação para vítimas de chuvas


RICARDO GALLO
JOSÉ BENEDITO DA SILVA

DE SÃO PAULO

A entidade que recebeu da Defesa Civil paulistana 250 kg de donativos arrecadados para vítimas das chuvas da região serrana do Rio não é reconhecida como de assistência e, segundo vizinhos, funciona como comitê do vereador Ushitaro Kamia (DEM).
O Instituto Educacional Beneficente e Assistencial Oriente Ocidente não tem registro nos conselhos municipal, estadual e nacional de assistência social e não é reconhecido como de utilidade pública pelo Ministério da Justiça -condição necessária para obter verba pública.
A entidade está no centro de denúncia sobre o uso político de ao menos um terço das 300 toneladas de alimentos, roupas, calçados e produtos de higiene e beleza arrecadados pela Defesa Civil.
No total, 95 toneladas foram enviadas às cidades fluminenses, enquanto 105 foram distribuídas em São Paulo -o resto está em um depósito na zona norte da capital.
Reportagem da Rádio Bandeirantes trouxe entrevista gravada com uma funcionária do órgão, na qual afirma que a distribuição é feita sob indicação de vereadores.
A funcionária, identificada por Gisele, cita nominalmente o vereador Kamia.
O caso obrigou o coordenador do órgão, coronel Jair Paca de Lima -que foi candidato a vereador pelo PSDB em 2008-, a ir à Câmara ontem prestar esclarecimentos.
Ele negou interferência política na distribuição -assim como Kamia-, mas o episódio será alvo de investigação da prefeitura e do Ministério Público Estadual.
A entidade foi fundada em 2001 e está registrada na Receita Federal como "associação privada". Um ano antes, Kamia não havia conseguido eleger-se vereador -ficou na suplência. Na eleição de 2004, voltou à Câmara, onde havia estado de 1989 a 1992.
A entidade fica no Tremembé, zona norte. "Não é novidade isso, não. Todo mundo aqui sabe [que o imóvel funciona como escritório político]", afirmou o entregador Antonio Galiza, 45, funcionário de uma distribuidora de gás vizinha de parede.
O técnico Paulo Cunha, 32, de uma loja de conserto de TVs ao lado, disse que o local costuma abrigar carreatas eleitorais do vereador. O instituto fica quase em frente a um terreno onde já funcionou um supermercado da família.
Hoje, o Ministério Público vai abrir investigação sobre o caso. Serão pedidos esclarecimentos à prefeitura, à Defesa Civil e ao vereador Kamia.
Já a comissão da prefeitura começou a ouvir os funcionários da Defesa Civil e convidou o jornalista Agostinho Teixeira, autor da reportagem da Rádio Bandeirantes.


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