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VIOLÊNCIA
Agentes da Deas que mataram aposentado em Campinas tinham mandado de prisão com nome de outro suspeito
Ouvidoria vê irregularidade em ação policial
LÍVIA STÁBILE
CLAUDIO LIZA JUNIOR
FREE-LANCE PARA A FOLHA CAMPINA S
A Ouvidoria das polícias do Estado de São Paulo divulgou ontem relatório que aponta que a
Deas (Delegacia Especializada
Anti-Sequestro) de Campinas (95
km de São Paulo) usou um mandado de prisão "forjado" para invadir a casa do aposentado Jorge
José Martins, 56, em 23 de maio.
A ação da polícia resultou na
morte do aposentado, que não tinha antecedentes criminais. Ainda segundo a Ouvidoria, os policiais de Campinas não tinham
provas de que existia um criminoso na casa, algemaram os familiares da vítima e ainda dificultaram
o socorro de Martins.
O inquérito, aberto pela própria
Deas para apurar o caso, foi remetido à Corregedoria da Polícia Civil pelo delegado-geral do Estado,
Marco Antônio Desgualdo, para
que a atuação dos policiais seja investigada.
O ouvidor Fermino Fecchio Filho visitou a casa da família do
aposentado para colher informações logo após a morte. Ele não
encontrou sinais de tiroteio -os
policiais alegaram ter sido recebidos a tiros. "Se Jorge tivesse atirado, haveria marcas no muro que
fica em frente à janela, onde ele foi
morto, mas não há. Ainda consegui ver vestígios de vidro, mas
apenas do lado de dentro", disse.
O mandado de prisão apresentado pelos policiais da Deas estava
em nome de um suspeito identificado como José Ademir. Segundo
o ouvidor, essa pessoa não é conhecida na região, o Jardim Bandeira 2, na periferia de Campinas.
Segundo a Deas, a polícia chegou até o endereço do aposentado
por meio de um número de telefone deixado por Ademir em uma
empresa na qual ele procurou
emprego. A linha foi comprada
pela família da vítima há dois meses, segundo afirmou à Folha o filho do aposentado, José Carvalho
Martins.
O ouvidor também sustenta que
os policiais não prestaram socorro adequado ao aposentado antes
de constatar a morte dele. Martins
teria sido arrastado até o carro da
polícia e levado para o hospital
apenas uma hora depois de ser
baleado.
Também foi alvo de crítica o fato de a Deas ter omitido da opinião pública os nomes dos policiais que participaram da ação.
"Enquanto os nomes não forem
apresentados, todos os policiais
de Campinas serão acusados da
morte do aposentado", disse.
O delegado do cartório da Deas,
Edson Jorge Aidar, que registrou
a ocorrência na ocasião, afirmou
que os nomes não serão revelados
enquanto o caso estiver em investigação. O objetivo é não "sujar" o
nome de policiais que ainda não
foram condenados.
A ação foi realizada por 12 homens da Deas e do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra). Segundo o delegado, eles cercaram a casa e anunciaram que eram policiais, quando teriam sido surpreendidos por
um tiro.
Um revólver de calibre 38, com
numeração raspada, supostamente usado pelo aposentado, teria sido apreendido na casa. Ainda não foi divulgado o resultado
da perícia feita pela Polícia Técnica na casa e na arma.
O delegado da Corregedoria da
Polícia Civil, Denis Castro, que assumiu recentemente o caso, afirmou que voltará à casa amanhã
para fazer uma nova perícia.
A família do aposentado já fez
dois protestos públicos contra o
crime nas ruas de Campinas. Os
três filhos de Jorge José Martins
que estavam na casa durante a
ação da polícia afirmam ter sido
maltratados e presos dentro de
quartos pelos policiais.
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