São Paulo, quinta-feira, 06 de junho de 2002

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VIOLÊNCIA

Agentes da Deas que mataram aposentado em Campinas tinham mandado de prisão com nome de outro suspeito

Ouvidoria vê irregularidade em ação policial

LÍVIA STÁBILE
CLAUDIO LIZA JUNIOR

FREE-LANCE PARA A FOLHA CAMPINA

S A Ouvidoria das polícias do Estado de São Paulo divulgou ontem relatório que aponta que a Deas (Delegacia Especializada Anti-Sequestro) de Campinas (95 km de São Paulo) usou um mandado de prisão "forjado" para invadir a casa do aposentado Jorge José Martins, 56, em 23 de maio.
A ação da polícia resultou na morte do aposentado, que não tinha antecedentes criminais. Ainda segundo a Ouvidoria, os policiais de Campinas não tinham provas de que existia um criminoso na casa, algemaram os familiares da vítima e ainda dificultaram o socorro de Martins.
O inquérito, aberto pela própria Deas para apurar o caso, foi remetido à Corregedoria da Polícia Civil pelo delegado-geral do Estado, Marco Antônio Desgualdo, para que a atuação dos policiais seja investigada.
O ouvidor Fermino Fecchio Filho visitou a casa da família do aposentado para colher informações logo após a morte. Ele não encontrou sinais de tiroteio -os policiais alegaram ter sido recebidos a tiros. "Se Jorge tivesse atirado, haveria marcas no muro que fica em frente à janela, onde ele foi morto, mas não há. Ainda consegui ver vestígios de vidro, mas apenas do lado de dentro", disse.
O mandado de prisão apresentado pelos policiais da Deas estava em nome de um suspeito identificado como José Ademir. Segundo o ouvidor, essa pessoa não é conhecida na região, o Jardim Bandeira 2, na periferia de Campinas.
Segundo a Deas, a polícia chegou até o endereço do aposentado por meio de um número de telefone deixado por Ademir em uma empresa na qual ele procurou emprego. A linha foi comprada pela família da vítima há dois meses, segundo afirmou à Folha o filho do aposentado, José Carvalho Martins.
O ouvidor também sustenta que os policiais não prestaram socorro adequado ao aposentado antes de constatar a morte dele. Martins teria sido arrastado até o carro da polícia e levado para o hospital apenas uma hora depois de ser baleado.
Também foi alvo de crítica o fato de a Deas ter omitido da opinião pública os nomes dos policiais que participaram da ação. "Enquanto os nomes não forem apresentados, todos os policiais de Campinas serão acusados da morte do aposentado", disse.
O delegado do cartório da Deas, Edson Jorge Aidar, que registrou a ocorrência na ocasião, afirmou que os nomes não serão revelados enquanto o caso estiver em investigação. O objetivo é não "sujar" o nome de policiais que ainda não foram condenados.
A ação foi realizada por 12 homens da Deas e do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra). Segundo o delegado, eles cercaram a casa e anunciaram que eram policiais, quando teriam sido surpreendidos por um tiro.
Um revólver de calibre 38, com numeração raspada, supostamente usado pelo aposentado, teria sido apreendido na casa. Ainda não foi divulgado o resultado da perícia feita pela Polícia Técnica na casa e na arma.
O delegado da Corregedoria da Polícia Civil, Denis Castro, que assumiu recentemente o caso, afirmou que voltará à casa amanhã para fazer uma nova perícia.
A família do aposentado já fez dois protestos públicos contra o crime nas ruas de Campinas. Os três filhos de Jorge José Martins que estavam na casa durante a ação da polícia afirmam ter sido maltratados e presos dentro de quartos pelos policiais.



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