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Manobra adia júri de Suzane e Cravinhos
Defensores da jovem abandonaram o 1º Tribunal do Júri, ontem à tarde; os advogados dos irmãos nem compareceram
Novo julgamento foi marcado para 17 de julho; rapazes voltaram à prisão e a jovem foi para um novo endereço na Vila Mariana
DA REPORTAGEM LOCAL
DO "AGORA"
Manobras jurídicas -legais- dos advogados da ex-estudante de direito Suzane
Louise von Richthofen, 22, e
dos defensores dos irmãos
Cristian e Daniel Cravinhos fizeram com que o julgamento
dos três pelo assassinato do casal Manfred, 49, e Marísia, 50,
marcado para ontem, no fórum
criminal da Barra Funda (zona
oeste de São Paulo), fosse adiado para o dia 17 de julho.
Pelo lado dos irmãos Cravinhos, que estão presos, os advogados Geraldo Jabur, Gislaine
Haddad Jabur e Ana Garcia
adotaram uma estratégia surpreendente ao não comparecer
ao tribunal ontem.
A justificativa dos defensores, que estão com os réus desde 2002, foi a de que, por conta
dos problemas nos presídios do
Estado durante os ataques do
PCC (Primeiro Comando da
Capital) e também pela greve
dos agentes penitenciários, eles
não puderam estar com os irmãos o tempo necessário para
instruí-los para o júri.
O juiz do 1º Tribunal do Júri,
Alberto Anderson Filho, fez
questão de dizer aos irmãos
Cravinhos, antes de mandá-los
de volta para o presídio onde
aguardam julgamento, em Itirapina (213 km de SP), que
mandou transferi-los na quinta-feira, justamente para que
esse problema não ocorresse,
mas que seus advogados não foram encontrados pela Justiça
para receber a comunicação de
que os dois réus estavam à disposição deles em uma unidade
prisional da capital.
Após a comunicação aos irmãos de que eles serão julgados
em 17 de julho, e de mandar um
recado aos defensores deles,
"para que eles próprios [os
réus] não sejam prejudicados",
o juiz Anderson Filho entrou
num forte embate jurídico com
os defensores de Suzane -Denivaldo Barni, Denivaldo Barni
Júnior, Mário Sérgio de Oliveira e Mauro Octávio Nacif.
Os quatro abandonaram o
plenário depois que o juiz decidiu recusar o pedido de adiamento do júri, até então sustentado pelo advogado Nacif,
para quem a presença da testemunha de defesa Cláudia Sorge
-amiga de Marísia que conhece Suzane- era de "caráter imprescindível".
Cláudia Sorge, com quem
Marísia costumava trocar confidências sobre a vida particular e os problemas mais rotineiros dos von Richthofen, está na
Alemanha, estudando, e, segundo o próprio juiz Anderson
Filho e o defensor de Suzane,
deverá chegar ao Brasil entre
hoje e amanhã.
Antes mesmo do início da
abertura da sessão em que
iriam ser julgados Suzane e os
Cravinhos, o advogado Nacif já
pedia para que ela não acontecesse. Durante as quase duas
horas e meia, Nacif afrontou o
juiz de diversas maneiras, chegou a apontar o dedo para ele e
repetiu: "Hoje, esse julgamento
não acontece, pois vou tirar minha beca e vou embora".
Em um determinado momento do debate com o juiz Anderson Filho -que se manteve
sempre sereno-, Nacif afirmou que Cláudia Sorge poderia
até ser substituída por uma outra testemunha caso o julgamento fosse marcado para um
novo dia.
Houve uma discussão em
torno dessa questão, já que Anderson Filho dizia não entender como Cláudia era tão importante para a defesa de Suzane, mas, ainda assim, seus defensores falavam em trocá-la
por uma outra testemunha.
Quando o juiz decidiu que
Suzane seria julgada mesmo
sem a presença de Cláudia Sorge, os advogados Nacif e Mário
Oliveira o desafiaram ainda
mais. Nacif o chamou de "intransigente e arbitrário".
Os defensores de Suzane passaram a argumentar ao juiz que
haviam entrado com uma petição, no dia 18 de maio, informando que Cláudia Sorge não
havia sido localizada para comparecer ao julgamento de Suzane e que, como o juiz não teria
visto o documento, isso configurava um erro.
Diante da vontade de Anderson Filho em manter o julgamento da ré, Nacif, acompanhado pelos outros defensores
dela, levantou-se e foi embora
do plenário.
Após o abandono do julgamento, que nem teve o corpo de
jurados sorteados, Anderson
Filho nomeou, por precaução,
o defensor público Tiago Marin
para acompanhar a defesa de
Suzane, ao menos até o dia 17
de julho. Essa medida viabiliza
o julgamento mesmo que os advogados se retirem novamente
do plenário. Se isso ocorrer, o
defensor poderá ser acionado.
Prisão preventiva
Depois de reclamar daquilo
que classificou como "falta de
ética e uma prova de deslealdade" dos defensores de Suzane, o
promotor Roberto Tardelli,
responsável pela acusação no
caso Richthofen, pediu para
que Suzane tivesse a prisão preventiva decretada novamente.
Desde a semana passada, por
decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça), a jovem cumpre prisão domiciliar -primeiramente na casa de seu advogado Denivaldo Barni e a partir de
ontem em um escritório na Vila
Mariana (zona sul de São Paulo). O pedido da Promotoria foi
negado pelo juiz sob a alegação
de que ele não poderia descumprir uma ordem de um tribunal
superior. "Apesar de a ré [Suzane] não estar algemada, eu estou", disse Anderson Filho, visivelmente abatido e constrangido.
(GILMAR PENTEADO, ANDRÉ CARAMANTE, LUÍSA BRITO, RICARDO GALLO, MÁRIO ROSSIT E LÍVIA SAMPAIO)
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